quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada

Suplemento Natal 2009 - Centro de Cuidados Continuados de Ponta Delgada: Uma luz no fim da vida de muitos micaelenses
24 Dezembro 2009 [Reportagem]
Há famílias que despejam os seus idosos e/ou incapacitados físicos no Centro de Cuidados Continuados da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada e se demitem das suas responsabilidades. E há idosos com grande dificuldade de mobilidade em resultados das suas maleitas que vivem sozinhos em casa e não têm a ajuda de ninguém. Entre uns e outros, há os que vivem melhor no Centro de Cuidados Continuados com a família em seu redor. Em tempo de natal fomos saber como está o Centro. Estivemos à conversa com Raquel Silva, Maria João Arreira, Luísa Ferraz e Maria José Pereira da Rosa. E também conversámos com alguns dos utentes. Fica-se mais humano quando se chega ao fim desta reportagem.

Correio dos Açores - Qual a missão do Centro de Cuidados Continuados?
Raquel Silva (directora geral da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada) Relevo o apoio ao hospital do Divino Espírito Santo. Quando os utentes já têm alguma autonomia em termos de saúde e não precisam de cuidados médicos diários especializados, vão para o Centro de Cuidados Continuados.
Médica Luísa Ferraz (membro da Mesa da Santa Casa da Misericórdia) Digamos que é uma valência hospitalar, aquilo que as pessoas chamam o hospital de crónicos. A pessoa já não precisa dos cuidados hospitalares, de valências muito específicas e precisam mais de um apoio de saúde em termos de continuação.
O doente vem para o centro porque precisa de cuidados de enfermagem, de cuidados médicos, que não pode ter em casa. Ele não é auto-suficiente para ir ao centro de saúde fazer penso e tomar a sua medicação.
Maria João Arreira (directora do Centro de Cuidados Continuados) A Misericórdia tem sempre como objectivo um poder caritativo. Tem um objectivo social sem fins lucrativos.
A Misericórdia fez um acordo com o Instituto de Acção Social e com a secretaria regional da Saúde. É um protocolo que estabelece uma quota de camas e as regras de apoio ao hospital do Divino Espírito Santo, na retaguarda. Em contrapartida, temos alguns benefícios que não são na sua totalidade para ajudar a manter a enfermaria.
Por outro lado, o instituto de Acção Social, que também comparticipa com alguma ajuda ao Centro de Cuidados Continuados, tem direito à sua quota de camas. E a própria Misericórdia tem acesso a outra quota para suprir a grande lista de espera de utentes que temos. Pessoas que pretendem ingressar no centro e não temos espaço para elas.
O centro tem 64 camas divididas por três unidades que têm a ver com o grau de dependência dos utentes. O objectivo é facilitar o fornecimento de cuidados tanto de higiene como de alimentação.

O que está a dizer é que este Centro de Cuidados Continuados é pequeno para as solicitações que tem
Maria João Sarreira Muitas das pessoas chegam a ter alta clínica do hospital, mas não têm alta social porque as suas casas não têm as condições necessárias para as voltar a acolher. As famílias trabalham, não têm possibilidade de terem em casa os seus idosos e/ou doentes. Muitas vezes, existe uma alta médica, mas é necessário o fornecimento de cuidados continuados ao nível de enfermagem, ao nível de alimentação, de cuidados diários de higiene. A pessoa não é autónoma e vem para um prolongamento do hospital do Divino Espírito Santo para continuar a usufruir deste tipo de cuidados.

E os doentes que vão de suas casas para o centro. É feita uma avaliação das condições em que vivem?
Enfermeira Maria José Pereira da Rosa (membro da Mesa da Santa Casa) É o Instituto de Acção Social que faz esta avaliação. E é feito um relatório médico sobre as condições em que se encontra o doente. Mas não é só o doente que vem para o centro. A idade não é doença.
A família inscreve a pessoa na nossa lista de espera e o utente é admitido logo que tenhamos possibilidade mediante a situação que nos for apresentada.

São apenas pessoas carenciadas que vêm para o Centro de Cuidados Continuados?
Médica Luísa Ferraz Nem todas são carenciadas
Maria João Sarreira Quando dizemos que o utente não tem alta social, nem sempre tem a ver com o poder económico da família. Tem a ver justamente com o não poder dar a atenção e o acolhimento necessário.

O que distingue o Centro de Cuidados Continuados de uma Instituição de Solidariedade Social que acolhe idosos?
Enfermeira Pereira da Rosa Os que aqui estão precisam de cuidados médicos e de enfermagem 24 horas por dia. Não chegam aqui só por questões sociais. Chegam também por questões que envolvem algumas patologias, às vezes, crónicas. E que têm que ter cuidados continuados.

Temos na Misericórdia o Lar da Levada que só tem enfermagem 16 horas por dia. Há um protocolo da Santa Casa que é apresentado aos familiares e onde se diz que, quando o doente não tiver condições para estar na Levada, passa para os Cuidados Continuados onde tem assistência médica e de enfermagem 24 horas por dia. E também sucede o contrário. Às vezes o utente do Centro de Cuidados Continuados, dado o seu grau de autonomia, é transferido para o Lar da Levada

Quem vai para o centro e não tem necessidades económicas, paga alguma taxa? Ou são todos tratados por igual?
Raquel Silva São todos tratados por igual dentro da instituição
Enfermeira Pereira da Rosa Estão em quartos de duas camas, e em enfermarias de quatro camas no máximo. Quando requerem cuidados, as patologias são diferenciadas, mas o tratamento é igual para toda a gente. A alimentação é igual, a medicação é igual, o médico é o mesmo, a enfermagem é a mesma. A atenção que se dá a um, dá-se a outro. Mas, por exemplo, posso precisar de atenções que o João não precisa porque é mais independente, é menos afectivo ou esconde mais a sua afectividade. Mas todos são tratados com os mesmos princípios: Tratar bem os utentes de uma forma humanizada, de uma forma correcta, o melhor que podemos. Nem sempre é como se deve. Por isso, queremos melhorar cada vez mais as nossas valências.

Como enquadram a família dos utentes no Centro? Há pessoas que nunca são visitadas pela família?
Maria João Sarreira Há utentes que nunca são visitados pela família. Alguns não têm qualquer enquadramento familiar. E há outros que são visitados diariamente. Não há uma regra geral.

Há muitos utentes do Centro cuja família são as enfermeiras e os médicos
Maria João Sarreira Exactamente. De acordo com o que a enfermeira Pereira da Rosa estava a dizer, um dos objectivos do centro é tentar proporcionar a qualidade de vida aos nossos utentes que eles não teriam em outro lugar. Ao fim e ao cabo, sim: Muitas vezes a família destes utentes é o pessoal da instituição.

Quais são as principais maleitas que apresentam estas pessoas?
Médica Luísa Ferraz Os utentes que temos têm todas as patologias que são próprias da sua idade. Têm insuficiências cardíacas, insuficiências respiratórias, insuficiências renais. Alguns têm escleroses avançadas, alzhaimers e todas as dificuldades que estes doentes têm em se mobilizaram, em deambularem pela instituição.
São, afinal, todas as maleitas próprias da sociedade que se quer cada vez mais desenvolvida com uma média de vida maior. Portanto, todas estas patologias crónicas se vão arrastando e vão criando as suas debilidades e acentuando as dependências dos nossos utentes.

Uma sociedade que despeja os seus idosos e doentes crónicos em centros como este
Médica Ferraz da Rosa Não é toda a sociedade. Nem todas as famílias fazem isso. Como já foi dito, porque as pessoas não podem deixar os seus empregos para tratarem os seus idosos (se o fizessem ficariam sem meios de subsistência), têm-nos aqui. E vêm-nos ver e visitar. Agora, há outras pessoas que, ou já não tinham família, porque eram viúvos e solteiros, e vêm par

Autor: João Paz


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