quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Misericórdia de Santarém

Muita da roupa que chega à instituição não está em condições de ser entregue
Misericórdia de Santarém e Cruz Vermelha recusam receber roupa usada

O excesso de roupa doada, muitas vezes em más condições, e alguns problemas de acondicionamento levaram as instituições escalabitanas a suspender a recolha. Noutros concelhos ribatejanos, as câmaras promovem campanhas para enviar roupa para África.

Numa época em que é habitual ver crescer os donativos para aqueles que mais precisam a delegação de Santarém da Cruz Vermelha Portuguesa e a Santa Casa da Misericórdia de Santarém decidiram fazer uma maior selectividade na recolha de roupa usada nas suas instalações para os mais carenciados.

Os casos têm motivações diferentes e ocorrem há vários meses. Na Misericórdia de Santarém as pessoas têm sido avisadas de que existe um excedente de roupa pessoal. “O que temos feito ver é que a roupa que nos é doada deve ter o mínimo de condições para ser entregue a quem precisa, o que muitas vezes não acontece. Não devemos dar aos outros o que achamos que não serve para nós”, constata Maria José Casaca, directora da Misericórdia.

A instituição tem mais necessidade de roupa de cama e de atoalhados para entregar a quem vive em condições precárias. De resto, continua a ser hábito ver todas as quintas-feiras não menos de uma vintena de pessoas recolherem roupas para si e para familiares. “Curiosamente não é nesta época de Natal que surgem mais donativos, mas sim nas mudanças de estação quando as pessoas verificam que roupa já não lhes faz falta”, acrescenta Maria José Casaca.

Na Cruz Vermelha a decisão tem a ver com os problemas que vinham acontecendo junto à sua sede, na avenida António Maria Baptista (junto ao antigo presídio militar). Segundo o presidente da delegação, José Júlio Eloy, eram deixadas roupas em sacos quando a sede estava fechada ou durante o fim-de-semana. “Os interessados levavam o que lhes interessava e deixavam o resto espalhado no chão, o que dava um péssimo aspecto. Também tivemos alguns problemas com pessoas que brigavam pelas roupas”, refere José Júlio Eloy, ressalvando que alguma roupa que se entregue em bom estado não será recusada.

Por outro lado, a Cruz Vermelha entregou também duas camionetas de roupa à Misericórdia de Santarém, devido à falta de condições de acondicionamento no seu espaço.

Roupa usada que é encaminhada para África

Na região, as câmaras municipais de Almeirim e de Coruche (além de Azambuja, Salvaterra de Magos e Vila Franca de Xira) foram duas das que se associaram ao projecto Humana People to People (ver caixa) para recolha de roupas e calçado. Foram montados depósitos em vários pontos dos dois municípios.

No caso de Almeirim foram instalados 18 contentores nas quatro freguesias do concelho. Dezasseis dos 18 contentores pertencem à Humana People to People, enquanto outros dois são da Caritas e da Fraterna Ajuda Cristã (FAC). De Junho a Setembro o projecto recolheu 33.751 quilos. A roupa que não se encontra em condições vai para reciclagem.

“São números que nós nunca pensámos quando iniciámos esta campanha. A iniciativa excedeu as expectativas E nestes números não entram os dados da FAC e Caritas, uma vez que eles não os contabilizam por quilos”, salienta o vereador da Câmara de Almeirim, Pedro Ribeiro.

Em Coruche a situação é idêntica. A recolha de roupa da Humana Portugal faz-se em quatro depósitos na vila de Coruche, outros tantos no Couço, e com mais um depósito por cada uma das seis restantes freguesias do concelho. “O projecto está no terreno há cerca de dois meses e estamos a pensar em alargar o número de depósitos. Nas primeiras semanas os depósitos ficaram cheios. Agora tem-se feito uma recolha por parte da associação de 15 em 15 dias. Este projecto tem ainda o mérito de evitar que roupas degradadas sejam depositadas em lixeiras ou contentores de lixo”, explica o vereador da Câmara de Coruche, Francisco Oliveira.


Associação de apoio a países de língua oficial portuguesa

A Humana Portugal foi criada há 10 anos e está ligada à Humana People to People, associação que envolve a Guiné-Bissau, Moçambique e Angola. A Humana Portugal apoia o desenvolvimento desses países de língua oficial portuguesa através da doação de roupa em segunda mão. A associação pertence à Federação das Associações ligadas ao Movimento Internacional da Humana People to People. Uma organização internacional presentemente representada por 26 associações nacionais, distribuídas por quatro continentes.

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