Eles querem é cheques para a Irmandade!
por Redacção Soberania em Novembro 25,2009
Um jantar no largo e confortável salão do Paço do Duque, em Aguada de Cima, congregou centenas de pessoas convidadas para festejar os 150 anos da Misericórdia.
Eram os irmãos da Confraria palreantes, acomodados à volta de mesas brancas. Quando mastigavam o leitão que nunca falta em ocasiões como esta, ouviu-se soprar no altifalante e, de seguida, a voz de barítono, timbrada e sem falsetes, do provedor dr. Amorim de Laranjedo:
“As Misericórdias - disse ele – vêm de tempos imemoriais. Diz-se que quem as criou foi o homo sapiens e que os trogloditas cavernículas já eram solidários e distribuíam a carne pelas crianças e pelos mais velhos que não podiam caçar. Cá em Portugal, aconteceu isto...”.
Parou, olhou em redor, remirou um papel e continuou: “Em 1458, estava D. Leonor com as suas açafatas a arear com celerine o elmo e a cota de malha do D. João II e entediada, porque rodeada de muito fausto de ouro e púrpura, lembrou-se dos pobres. Pediu então ao marido que os socorresse”.
O orador tossicou, fez outro hiato e continuou: ”O rei disse então a D. Leonor que fosse para as terras de Óbidos, que eram dela e que mandasse construir um edifício para albergar a pobreza, porque havia lá umas caldas para tratamento de doenças respiratórias, espinhela caída e azia crónica. Mas como aquilo era um descampado e ali não havia pobres, lembraram-se a rainha e o rei de mandar para lá dezenas de cortesãos, em trajes andrajosos, sujos e com a barba por fazer, para divulgação. Uns, eram assessores que não fazia nada e outros andavam metidos nos negócios escuros, recebendo luvas na compra de naus e de outras embarcações e na venda de lanças velhas, obuses e canhões enferrujados. E assim nasceu a primeira Misericórdia. Passados 400 anos, começaram a olhar para o lado e viram que em Águeda também havia pobres e fundaram aqui uma Misericórdia, de que hoje me honro de ser o Provedor!”.
Durante o discurso, senhoras elegantes, amáveis e delicadas, depositavam nas mesas, à frente de cada conviva, um pequeno paliteiro de faiança e um envelope que encerrava um papel com um cifrão.
A certa altura, o Carlos Abano das Águas pôs o paliteiro no bolso, abriu o envelope e colocou dentro dele duas moedas de um euro.
“Mas o que é que está a fazer? - perguntou o Lenine de Falgoselhe, sentado a seu lado – moedas? Eles querem é cheques para a Irmandade!”.
“Este dinheiro é para pagar o paliteiro, não acha que chega? O jantar paguei-o à entrada!
“Mas andei aí pelas mesas a conversar com uns e com outros e estavam a passar cheques – disse o Egberto das Canas – eu não passo nenhum porque me esqueci do livro!”.
O Carlos Albano olhou para o tecto e rematou: “Se estão a passar cheques é porque não trouxeram dinheiro trocado...”.
Terminado o discurso, que foi ouvido com muito agrado, sobretudo por levarem para casa um paliteiro de prenda, ouviu-se a voz do dr. Faria das Barreiras, presidente da Assembleia da Irmandade, que disse: “Já pedi ao investigador Deniz de Bouquets que coteje o livro de linhagem da Segunda Dinastia para descobrir se, a não terem assassinado o rei D. Carlos, não seria eu, hoje, o rei... pois sou casado com uma Leonor. E o livro da armaria, para ver se tenho algum brasão, porque todos os reis dessas dinastia eram casados com Leonores”.
“Ora deixa-te disso...”, interrompeu a Nô, começando a entregar uns papelinhos pelas mesas, ao mesmo tempo que dizia: “Vamos agora cantar todos o poema que está nestes papeis, com a letra da Samaritana”:
O Carlos Albano
Dá ajuda à Irmandade
Mas por engano
E não por maldade
No envelope mete
Pra comprar um paliteiro
Não um bom cheque
Mas dois euros, que é dinheiro!!!
Soberania do Povo
por Redacção Soberania em Novembro 25,2009
Um jantar no largo e confortável salão do Paço do Duque, em Aguada de Cima, congregou centenas de pessoas convidadas para festejar os 150 anos da Misericórdia.
Eram os irmãos da Confraria palreantes, acomodados à volta de mesas brancas. Quando mastigavam o leitão que nunca falta em ocasiões como esta, ouviu-se soprar no altifalante e, de seguida, a voz de barítono, timbrada e sem falsetes, do provedor dr. Amorim de Laranjedo:
“As Misericórdias - disse ele – vêm de tempos imemoriais. Diz-se que quem as criou foi o homo sapiens e que os trogloditas cavernículas já eram solidários e distribuíam a carne pelas crianças e pelos mais velhos que não podiam caçar. Cá em Portugal, aconteceu isto...”.
Parou, olhou em redor, remirou um papel e continuou: “Em 1458, estava D. Leonor com as suas açafatas a arear com celerine o elmo e a cota de malha do D. João II e entediada, porque rodeada de muito fausto de ouro e púrpura, lembrou-se dos pobres. Pediu então ao marido que os socorresse”.
O orador tossicou, fez outro hiato e continuou: ”O rei disse então a D. Leonor que fosse para as terras de Óbidos, que eram dela e que mandasse construir um edifício para albergar a pobreza, porque havia lá umas caldas para tratamento de doenças respiratórias, espinhela caída e azia crónica. Mas como aquilo era um descampado e ali não havia pobres, lembraram-se a rainha e o rei de mandar para lá dezenas de cortesãos, em trajes andrajosos, sujos e com a barba por fazer, para divulgação. Uns, eram assessores que não fazia nada e outros andavam metidos nos negócios escuros, recebendo luvas na compra de naus e de outras embarcações e na venda de lanças velhas, obuses e canhões enferrujados. E assim nasceu a primeira Misericórdia. Passados 400 anos, começaram a olhar para o lado e viram que em Águeda também havia pobres e fundaram aqui uma Misericórdia, de que hoje me honro de ser o Provedor!”.
Durante o discurso, senhoras elegantes, amáveis e delicadas, depositavam nas mesas, à frente de cada conviva, um pequeno paliteiro de faiança e um envelope que encerrava um papel com um cifrão.
A certa altura, o Carlos Abano das Águas pôs o paliteiro no bolso, abriu o envelope e colocou dentro dele duas moedas de um euro.
“Mas o que é que está a fazer? - perguntou o Lenine de Falgoselhe, sentado a seu lado – moedas? Eles querem é cheques para a Irmandade!”.
“Este dinheiro é para pagar o paliteiro, não acha que chega? O jantar paguei-o à entrada!
“Mas andei aí pelas mesas a conversar com uns e com outros e estavam a passar cheques – disse o Egberto das Canas – eu não passo nenhum porque me esqueci do livro!”.
O Carlos Albano olhou para o tecto e rematou: “Se estão a passar cheques é porque não trouxeram dinheiro trocado...”.
Terminado o discurso, que foi ouvido com muito agrado, sobretudo por levarem para casa um paliteiro de prenda, ouviu-se a voz do dr. Faria das Barreiras, presidente da Assembleia da Irmandade, que disse: “Já pedi ao investigador Deniz de Bouquets que coteje o livro de linhagem da Segunda Dinastia para descobrir se, a não terem assassinado o rei D. Carlos, não seria eu, hoje, o rei... pois sou casado com uma Leonor. E o livro da armaria, para ver se tenho algum brasão, porque todos os reis dessas dinastia eram casados com Leonores”.
“Ora deixa-te disso...”, interrompeu a Nô, começando a entregar uns papelinhos pelas mesas, ao mesmo tempo que dizia: “Vamos agora cantar todos o poema que está nestes papeis, com a letra da Samaritana”:
O Carlos Albano
Dá ajuda à Irmandade
Mas por engano
E não por maldade
No envelope mete
Pra comprar um paliteiro
Não um bom cheque
Mas dois euros, que é dinheiro!!!
Soberania do Povo
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