quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Santa Casa da Misericórdia de Faro

ENSAIO SOBRE TOPONÍMIA FARENSE (2)

Se em tempos antigos estivéssemos na rua da Alameda, em Faro, estávamos mesmo em frente do portão principal do jardim, antes Passeio Vasco da Gama. A actual designação – Alameda João de Deus – foi atribuída em 1890 e o portão passou daquele lugar, na rua Manuel de Arriaga, para a rua da PSP (antes rua do Ferregial) muito tempo depois.

Diremos que foi depois do Liceu João de Deus, que ali funcionou de 1908 a 1948, ter saído para dar lugar à Escola Técnica Elementar Serpa Pinto e depois à Escola Industrial e Comercial Tomás Cabreira.

Alandra – Alandra e D. João Peres de Aboim, mordomo-mor de D. Afonso III, fizeram um acordo de paz e amor e, com saudade, despediram-se para sempre.

Ela ofereceu-lhe flores a que ele, em homenagem à Princesa Moura, chamou aloendros e levou-os para a sua herdade que teve limites fixados em 2 de Maio de 1267.

Albergue – Antes a rua era uma vala que se juntava a um braço de mar que vinha do largo de S. Francisco e seguia para o largo da Alagoa (praça Alexandre Herculano). Depois foi dos Muros do Cemitério da Misericórdia e do Cemitério da Misericórdia, designações que datam no máximo do Séc. XVI, época da fundação da Santa Casa da Misericórdia de Faro.

No gaveto desta rua com a da Misericórdia situa-se o Armazém da Patriarcal, construído em 1742 para arrecadar a terça parte dos frutos que o Cardeal Patriarca recebia da diocese algarvia.

Posteriormente no imóvel funcionou uma vidreira.

Alberto Marques da Silva (1898/1977) – Militar e poeta, natural de Chaves, que desde criança viveu em Faro, onde durante largos anos foi director do cinema de Santo António.

Poeta muito premiado em Jogos Florais, com assídua colaboração na imprensa local e várias obras publicadas entre 1937 (Flores sem Aroma) e 1970 (Versos de Amor e Saudade), o “Sr. Marmelada” tem o seu nome ligado não só a esta rua, que se situa no Montenegro, mas também a uma travessa na baixa da cidade, entre as ruas Rebelo da Silva e Castilho.

Alcaçarias – A rua e a travessa das Alcaçarias eram anteriormente travessa Grande das Alcaçarias e travessa Pequena das Alcaçarias e estendiam-se por um vasto espaço que incluía a actual praça Nova e a parte baixa da avenida Cinco de Outubro, onde se vendiam verduras e os Judeus faziam activo comércio. Aquele mercado funcionou depois na praça Nova até que foi transferido para a chamada “Praça da Verdura”, no local onde se situa o Banco de Portugal.

Alexandre Herculano (Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo, 1810-1877) Escritor romântico e um dos mais notáveis historiadores portugueses, tem o seu nome na toponímia de muitas cidades e vilas algarvias (Albufeira, Lagoa, Faro, Loulé, Monchique…).

Liberal convicto, esteve exilado em Inglaterra e em França, regressando com as tropas que desembarcaram no Mindelo. Depois do cerco do Porto, organizou da biblioteca pública da cidade.

Em Lisboa, a partir 1836, dirigiu “O Panorama” e a Real Biblioteca da Ajuda, foi Deputado, escreveu a parte fundamental da sua obra e fundou o Partido Progressista Histórico e os jornais “O País” e “O Português”.

Parte fundamental da obra literária de Herculano:- História de Portugal, História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal, Portugaliae Monumenta Histórica (iniciador), Eurico-O Presbítero, O Monge de Cister, Lendas e Narrativas, A Voz do Profeta , A Harpa do Crente...

Em Faro existem três artérias dedicadas ao escritor – a praça, antes largo da Alagoa, uma travessa e uma rua de que parte foi designada rua da Atafona.

No jardim situado na praça está implantado um busto do Dr. Amadeu Ferreira de Almeida (1876/1966), diplomata e escritor farense que doou à sua cidade uma notável colecção de arte, instalada em sala própria no Museu Arqueológico e Lapidar Infante D. Henrique.

Alfândega – Nesta zona da cidade, próximo ao antigo porto, já D. Manuel I fizera construir, em 1499, a primitiva alfândega.

O actual edifício, construído em data imprecisa do terceiro quartel do Séc. XIX, alberga também a Brigada Fiscal da GNR.

É uma graciosa construção, cujo corpo central, bem individualizado entre dois pisos térreos e utilitários, apresenta dez janelas de sacada e vistosos telhados de quatro águas.

A travessa, que é anterior, ganhou aquela denominação depois da construção do edifício.

* Lic. em Sociologia
Região Sul

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