sexta-feira, 21 de maio de 2010

Santa Casa da Misericórdia do Barreiro

Editorial
2010-05-21, Luís Ferreira
Sessenta anos na história de um Concelho

A crise económica e social que temos vindo a atravessar nos últimos tempos tem sido directamente responsável por um conjunto de situações que, face à magnitude dos problemas que enfrentamos, acabam por ser invariavelmente relegadas para um plano secundário ou uma análise posterior. Como é evidente, o aumento exponencial dos números do desemprego ou os impedimentos cada vez mais evidentes do estado português em financiar-se nos mercados internacionais assumem uma dimensão que a todos deve preocupar, sem que, no entanto, se negligenciem outros aspectos igualmente preocupantes como as dificuldades que previsivelmente irão ocorrer em áreas como a cultura, a educação ou a comunicação social.


Neste último caso, as circunstâncias actuais assumem contornos de algum dramatismo, com a quebra evidente nas receitas publicitárias a criar claros constrangimentos a um sector em que a independência das conveniências políticas e empresariais encontra-se intimamente ligada à qualidade da nossa vida democrática. Quando um jornalista exerce a sua profissão com o espectro constante do despedimento ou da falência é praticamente inevitável que a sua liberdade saía diminuída deste processo e a cedência a pressões da mais diversa natureza ocorra com maior facilidade. Uma imprensa livre e plural é a melhor garantia que podemos ter contra os abusos de poder e um veículo ideal para a promoção dos valores da cidadania.


No decurso do último ano, o panorama da comunicação social do Concelho ficou bastante mais pobre, com vários jornais locais a terem que suspender a sua actividade face à crescente complexidade da conjuntura com que nos confrontamos. No que diz respeito ao nosso semanário, assumimos que 2009 seria um momento de consolidação de um projecto que há quase seis décadas se tornou parte indissociável do quotidiano da comunidade em que se encontra inserido. Nesse sentido, realizámos diversas iniciativas que conseguiram suscitar a atenção de largas centenas de barreirenses, alargámos consideravelmente o nosso leque de colaboradores e reestruturámos por completo o site do JB.


Temos plena consciência de que a estabilidade de que usufruímos só é possível graças à forte ligação que mantemos com a Misericórdia do Barreiro, facto que nos responsabiliza ainda mais no propósito assumido de continuarmos a acompanhar com particular atenção a evolução social da cidade, em particular a mancha de pobreza e de exclusão social que continua a alastrar-se sem que os poderes públicos tomem as medidas necessárias à sua progressiva erradicação. Por outro lado, entendemos que a construção da Terceira Travessia do Tejo no corredor Barreiro-Chelas é um elemento essencial para que o Concelho possa recuperar o rumo do desenvolvimento e do progresso que caracterizou uma parte considerável do nosso percurso no século XX. Não desistiremos de expressar este ponto de vista, por mais inconveniente que esta opinião se possa vir a tornar.


Afinal, sessenta anos de história comum criam-nos a obrigação adicional de continuarmos a zelar pelos interesses e aspirações de uma terra em que o futuro continua a ser permanentemente adiado. Merecemos todos mais e melhor. Pela nossa parte, cá estaremos para continuar a ajudar.

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