Santa Casa serve mais de mil sopas por mês
Muitas pessoas têm na "Casa da Rua" a única refeição quente do dia
00h32m
HERMANA CRUZ E SARA COSTA
Criada há 14 meses para fazer face ao momento de crise que o país atravessa, a "Sopa da Noite" já serve mais de mil refeições por mês. Para muitas pessoas é o único prato quente do dia, sublinham os responsáveis da Santa Casa de Misericórdia do Porto.
A maior parte são homens, com 40 anos, desempregados e sozinhos na cidade do Porto. Vivem em quartos de pensões pagos pela Segurança Social e recebem o rendimento social de inserção ou outro tipo de subsídio. Mas não chega para terem uma refeição quente. Essa é a conclusão de um estudo da Santa Casa da Misericórdia do Porto, com utentes da "Casa da Rua", onde funciona, desde 25 de Março de 2009, a "Sopa da Noite".
"A Santa Casa criou esse serviço a título excepcional, atendendo aos tempo de crise que se vive nos últimos anos. A Sopa da Noite não é só a ajuda alimentar. A Casa da Rua tenta integrar os utentes no seu projecto", explica o vice-provedor da Misericórdia.
Segundo António Tavares, 14 meses após a abertura da "Sopa da Noite", a situação "não se resolveu e até piorou". Prova disso é o facto de na Casa da Rua, situada na Rua de Duque de Loulé, serem servidas por mês mais de mil refeições quentes, compostas por sopa, pão, água, chá e sobremesa.
Comer para o dia seguinte
"Para muitos, é a única refeição do dia. Servem-se sempre duas ou mais vezes. Havia um que comia três a cinco pratos de sopa. Avisámos que aquilo lhe fazia mal. Ele disse que comia muito à noite porque não ia ter o que comer no dia seguinte", conta uma das técnicas da "Casa da Rua".
Com três filhos e uma neta de dois anos, Cristina Rebelo enquadra-se nessa categoria. "Hoje andei sem qualquer refeição. É difícil ter uma refeição direita. Estou numa pensão há mais de um ano e lá não se pode cozinhar. Comer fora sai muito caro", confessa.
Já Mário, com 36 anos, anda pela cidade a "fazer o papel de polícia". "Já estive ao pé da Praça da República. Agora ando toda a noite na rua, para a frente e para trás", explica aquele desempregado, no dia em que se estreou na "Sopa da Noite". "Costumo esperar pelas carrinhas nos Aliados. Mas, como venho à Santa Casa lavar a roupa, falaram-me nisto", conta.
Mário, que recebe 180 euros de subsídio de desemprego, enquadra-se no perfil do utente tipo da "Sopa da Noite", tal como Manuel Barbosa, que já passou por tudo: "Comi o pão que o diabo amassou quando era emigrante em França. E já comi nos melhores restaurantes da Europa, até na Torre Eiffel", diz, lamentando que, agora, os 178 euros de reforma por invalidez não dêem para uma refeição.
"O presidente da Câmara devia fazer mais casas como esta. Há quem não tenha um pão para comer", pede Paulo. João Paulo, por sua vez, encontrou na "Casa da Rua" uma saída para uma vida marcada pela droga. "Este mês, vou começar a tirar um curso para trabalhar na área da toxicodependência", adianta, com orgulho.
JN
Muitas pessoas têm na "Casa da Rua" a única refeição quente do dia
00h32m
HERMANA CRUZ E SARA COSTA
Criada há 14 meses para fazer face ao momento de crise que o país atravessa, a "Sopa da Noite" já serve mais de mil refeições por mês. Para muitas pessoas é o único prato quente do dia, sublinham os responsáveis da Santa Casa de Misericórdia do Porto.
A maior parte são homens, com 40 anos, desempregados e sozinhos na cidade do Porto. Vivem em quartos de pensões pagos pela Segurança Social e recebem o rendimento social de inserção ou outro tipo de subsídio. Mas não chega para terem uma refeição quente. Essa é a conclusão de um estudo da Santa Casa da Misericórdia do Porto, com utentes da "Casa da Rua", onde funciona, desde 25 de Março de 2009, a "Sopa da Noite".
"A Santa Casa criou esse serviço a título excepcional, atendendo aos tempo de crise que se vive nos últimos anos. A Sopa da Noite não é só a ajuda alimentar. A Casa da Rua tenta integrar os utentes no seu projecto", explica o vice-provedor da Misericórdia.
Segundo António Tavares, 14 meses após a abertura da "Sopa da Noite", a situação "não se resolveu e até piorou". Prova disso é o facto de na Casa da Rua, situada na Rua de Duque de Loulé, serem servidas por mês mais de mil refeições quentes, compostas por sopa, pão, água, chá e sobremesa.
Comer para o dia seguinte
"Para muitos, é a única refeição do dia. Servem-se sempre duas ou mais vezes. Havia um que comia três a cinco pratos de sopa. Avisámos que aquilo lhe fazia mal. Ele disse que comia muito à noite porque não ia ter o que comer no dia seguinte", conta uma das técnicas da "Casa da Rua".
Com três filhos e uma neta de dois anos, Cristina Rebelo enquadra-se nessa categoria. "Hoje andei sem qualquer refeição. É difícil ter uma refeição direita. Estou numa pensão há mais de um ano e lá não se pode cozinhar. Comer fora sai muito caro", confessa.
Já Mário, com 36 anos, anda pela cidade a "fazer o papel de polícia". "Já estive ao pé da Praça da República. Agora ando toda a noite na rua, para a frente e para trás", explica aquele desempregado, no dia em que se estreou na "Sopa da Noite". "Costumo esperar pelas carrinhas nos Aliados. Mas, como venho à Santa Casa lavar a roupa, falaram-me nisto", conta.
Mário, que recebe 180 euros de subsídio de desemprego, enquadra-se no perfil do utente tipo da "Sopa da Noite", tal como Manuel Barbosa, que já passou por tudo: "Comi o pão que o diabo amassou quando era emigrante em França. E já comi nos melhores restaurantes da Europa, até na Torre Eiffel", diz, lamentando que, agora, os 178 euros de reforma por invalidez não dêem para uma refeição.
"O presidente da Câmara devia fazer mais casas como esta. Há quem não tenha um pão para comer", pede Paulo. João Paulo, por sua vez, encontrou na "Casa da Rua" uma saída para uma vida marcada pela droga. "Este mês, vou começar a tirar um curso para trabalhar na área da toxicodependência", adianta, com orgulho.
JN
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