Idosos optam por viver junto da instituição com conforto e privacidade
Vivendas assistidas da Misericórdia da Golegã são um sucesso
Em Abril a instituição inicia a construção de mais oito moradias que estarão prontas em Dezembro deste ano. A Misericórdia vai ficar com 27 habitações. Um projecto que surgiu para garantir a sustentabilidade da Santa Casa.
Albertina Roque, 86 anos, e António Barreto, 93 anos, estão casados há 66 anos e garante quem convive com eles todos os dias que continuam apaixonados como no início do namoro. O facto de não terem filhos pesou na hora de decidir como viver os últimos anos das suas vidas. O casal da Golegã adquiriu uma das vivendas assistidas da Santa Casa da Misericórdia local situadas no Complexo Rodrigo da Cunha Franco, um espaço contíguo ao lar da instituição.
Estamos dentro das instalações da Santa Casa da Misericórdia mas os mais distraídos podem pensar que estamos numa qualquer rua da Golegã. Os sinais de trânsito indicam onde é proibido estacionar e a direcção em que os carros devem circular. O chão está alcatroado e não faltam as passadeiras. Em volta das vivendas foram colocados passeios em calçada portuguesa. Os vasos com flores e as cadeiras de plástico de várias cores tornam o espaço ainda mais familiar.
Dentro das casas é tudo decorado ao gosto de quem lá vive. Albertina Roque mostra as várias fotografias que decoram a mobília da sala. O móvel onde está guardado o serviço de loiça é o mesmo que estava na sua casa. Albertina e António fizeram questão de o trazer. Cada habitação dispõe de um quarto, uma sala, uma kitchnette e uma casa-de-banho.
As primeiras quatro vivendas foram construídas há dez anos quando o projecto arrancou. Em Abril inicia-se a construção de mais oito moradias que estarão prontas em Dezembro deste ano. A Misericórdia vai ficar com cerca de 27 habitações. Um projecto que surgiu para serem um factor de sustentabilidade para a Santa Casa.
Lucinda Mota, 82 anos, reside numa das vivendas assistidas há cerca de três anos. O marido sofre de Alzheimer e está acamado há vários anos. Foi por isso que Lucinda optou por este tipo de residência. “Foi a melhor solução. Com o meu marido nesta situação de dependência, aqui estou mais descansada porque as funcionárias e as responsáveis pelo lar vêm todos os dias ver se está tudo bem e não nos falta nada”, explica a O MIRANTE.
A reformada conta que desde que vive nas moradias da Santa Casa passou a ir à ginástica e à hidroginástica. Durante o dia aproveita para visitar as vizinhas. “É uma distracção. Damo-nos todos muito bem e gostamos de ficar à conversa umas com as outras para passar o tempo. Aqui temos mais qualidade de vida”, refere. Também a sua casa está decorada ao seu gosto o que faz com que se sintam ainda mais no seu lar. Na cómoda de Lucinda Mota não faltam as fotografias de família de onde se destaca a foto, a preto e branco, do seu casamento.
No dia em que O MIRANTE visitou o local estava um final de tarde solarenga já a cheirar a Verão. Sempre que está bom tempo os moradores juntam-se à porta das suas casas. Sentados em cadeiras conversam e contam anedotas. O provedor da Misericórdia da Golegã, Martins Lopes, junta-se muitas vezes à conversa. “É muito importante toda esta familiaridade que se cria entre vizinhos e com a instituição. Esta é a casa deles onde vão viver até ao fim das suas vidas e por isso sentem-se confortáveis e em segurança”, realça Martins Lopes.
Projecto permite instituição autosustentar-se
As vivendas assistidas da Santa Casa da Misericórdia da Golegã surgiram há dez anos pela mão do provedor que quis criar um projecto que permitisse à instituição poder sustentar-se sozinha quando o parceiro Estado começasse a ficar “frágil”, como acontece actualmente com sucessivos cortes sociais.
“Estas vivendas são um factor de sustentabilidade porque podem ser revendidas. Quando os moradores morrem podemos voltar a vender a casa e é essa mais valia que nos permite considerar as vivendas como um factor de sustentabilidade para a Misericórdia”, explica Martins Lopes, provedor da Misericórdia da Golegã há cerca de duas décadas.
Começaram com a construção de quatro vivendas e foram aumentando a oferta aos poucos. No final do ano vão ficar com 27 moradias sendo que existe “bastante” procura para aquisição de casas. Cada casa custa cerca de 50 mil euros e qualquer pessoa a partir dos 75 anos pode lá viver. Quem compra a habitação paga água e luz. As vivendas estão equipadas com sala, quarto com roupeiro, uma pequena cozinha com fogão eléctrico, casa-de-banho e ar condicionado. As funcionárias e responsáveis do lar visitam todos os dias os moradores para saber se está tudo bem.
Apesar do receio inicial, uma vez que não sabia se as vivendas assistidas iam ter boa aceitação por parte das pessoas, o projecto superou todas as expectativas. O objectivo é proporcionar um último terço de vida aos idosos com qualidade. “Não queremos que eles fiquem fechados em casa nem que fiquem sempre com as mesmas rotinas como aconteceria se estivessem em casa. Aqui têm que se arranjar todos os dias e sair de casa. Quem vive nas moradias também participa nas actividades e nos passeios que temos preparados para os idosos do lar. Este projecto foi um salto qualitativo para os idosos”, conclui Martins Lopes.
O Mirante
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