Família viveu na rua mais de 20 anos
2010-12-25
Dora Mota
José Quaresma tem 28 anos e não sabe ler nem escrever. O conceito de casa não lhe é familiar. Ontem, sexta-feira, foi o primeiro dia que passou, inteiro, num apartamento, onde a sua família, sem abrigo há mais de 20 anos, foi realojada pela Santa Casa da Misericórdia.
foto JOSÉ MOTA/Global Imagens
O passado da família é incerto, mas as suas origens são mais a sul do que o Porto. Foi, todavia, nesta cidade que José foi cedo retirado da escola para passar os dias a mendigar. Vivia com a mãe, Maria de Fátima, de 58 anos, e a namorada, num barraco junto ao Lima 5 (próximo do Marquês).
Chegaram a viver numa habitação social da Câmara Municipal do Porto, de onde foram despejados. Maria de Fátima sofre de diabetes e várias outras doenças que a tornam fisicamente incapaz para várias tarefas. É por isso que José, que agora está finalmente a adquirir a escolaridade básica, repete que é ele quem limpa a casa.
"Sou eu o responsável, eu sei que sou eu o responsável, senhor provedor", diz o jovem a António Tavares, o provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto (SCMP) que, ontem, foi visitar a família na casa que a instituição lhe destinou, na esperança de assim colocar a vida de quatro pessoas na direcção de um quotidiano normal.
A quarta pessoa é um irmão de José, recluso no estabelecimento prisional de Paços de Ferreira. O facto de finalmente ter uma casa para onde ir vai permitir que, este ano, tenha pela primeira vez uma saída precária para passar o Natal com os seus.
Maria de Fátima não se estende muito a falar do seu passado. Vivia com a mãe, desorientou-se quando ela morreu. No barraco "era tudo ratos". Assolada por vários males, entre eles diabetes, diz que só quer "estar sempre a dormir". Na casa escassamente mobilada, a sua cama ostenta a única peça decorativa - um urso de peluche que tem, no peito, o emblema do F.C. Porto.
"É bom ter uma casa. Para a minha mãe era mesmo preciso, ela tem muitas doenças e não podia estar na rua assim", diz José, olhos brilhantes, repetindo que ele é que toma conta de tudo. Este jovem que só agora aprende a ler já teve trabalho. A intenção da Santa Casa da Misericórdia é dar-lhe um emprego, mais tarde.
"Vão ser acompanhados permanentemente por uma assistente social", diz António Tavares. O alojamento é o princípio de tudo. "Todas as pessoas merecem habitação, é um direito constitucional. Fala-se muito do Estado social, mais difícil é concretizá-lo", observa o provedor.
O bairro Daniel Constant, onde a família passou a viver, é composto por dois edifícios com mais de 130 casas, todos pertença da Santa Casa da Misericórdia do Porto. Tornou-se o outro lado do espelho de vidas desgraçadas.
Foi inicialmente feito para abrigar a população que vivia em ilhas, legadas à SCMP pelos senhorios, mas tem recebido mais pessoas com situações de carência diversas. Uma das duas torres foi construída no âmbito do Programa especial de Realojamento. "Fomos a única instituição não pública que fez um PER", salienta, em declarações ao JN, António Tavares.
JN
2010-12-25
Dora Mota
José Quaresma tem 28 anos e não sabe ler nem escrever. O conceito de casa não lhe é familiar. Ontem, sexta-feira, foi o primeiro dia que passou, inteiro, num apartamento, onde a sua família, sem abrigo há mais de 20 anos, foi realojada pela Santa Casa da Misericórdia.
foto JOSÉ MOTA/Global Imagens
O passado da família é incerto, mas as suas origens são mais a sul do que o Porto. Foi, todavia, nesta cidade que José foi cedo retirado da escola para passar os dias a mendigar. Vivia com a mãe, Maria de Fátima, de 58 anos, e a namorada, num barraco junto ao Lima 5 (próximo do Marquês).
Chegaram a viver numa habitação social da Câmara Municipal do Porto, de onde foram despejados. Maria de Fátima sofre de diabetes e várias outras doenças que a tornam fisicamente incapaz para várias tarefas. É por isso que José, que agora está finalmente a adquirir a escolaridade básica, repete que é ele quem limpa a casa.
"Sou eu o responsável, eu sei que sou eu o responsável, senhor provedor", diz o jovem a António Tavares, o provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto (SCMP) que, ontem, foi visitar a família na casa que a instituição lhe destinou, na esperança de assim colocar a vida de quatro pessoas na direcção de um quotidiano normal.
A quarta pessoa é um irmão de José, recluso no estabelecimento prisional de Paços de Ferreira. O facto de finalmente ter uma casa para onde ir vai permitir que, este ano, tenha pela primeira vez uma saída precária para passar o Natal com os seus.
Maria de Fátima não se estende muito a falar do seu passado. Vivia com a mãe, desorientou-se quando ela morreu. No barraco "era tudo ratos". Assolada por vários males, entre eles diabetes, diz que só quer "estar sempre a dormir". Na casa escassamente mobilada, a sua cama ostenta a única peça decorativa - um urso de peluche que tem, no peito, o emblema do F.C. Porto.
"É bom ter uma casa. Para a minha mãe era mesmo preciso, ela tem muitas doenças e não podia estar na rua assim", diz José, olhos brilhantes, repetindo que ele é que toma conta de tudo. Este jovem que só agora aprende a ler já teve trabalho. A intenção da Santa Casa da Misericórdia é dar-lhe um emprego, mais tarde.
"Vão ser acompanhados permanentemente por uma assistente social", diz António Tavares. O alojamento é o princípio de tudo. "Todas as pessoas merecem habitação, é um direito constitucional. Fala-se muito do Estado social, mais difícil é concretizá-lo", observa o provedor.
O bairro Daniel Constant, onde a família passou a viver, é composto por dois edifícios com mais de 130 casas, todos pertença da Santa Casa da Misericórdia do Porto. Tornou-se o outro lado do espelho de vidas desgraçadas.
Foi inicialmente feito para abrigar a população que vivia em ilhas, legadas à SCMP pelos senhorios, mas tem recebido mais pessoas com situações de carência diversas. Uma das duas torres foi construída no âmbito do Programa especial de Realojamento. "Fomos a única instituição não pública que fez um PER", salienta, em declarações ao JN, António Tavares.
JN
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