Domingo, 20 de Junho 2010 Domingo
SANTA CASA DE COIMBRA
Misericórdia abre creche e pensa
já num futuro “campus social”
Em entrevista ao Diário de Coimbra, o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Coimbra, Aníbal Pinto de Castro revela os projectos em curso no apoio “aos mais carenciados”. Sobre o “envelhecimento” da instituição responde com a admissão, amanhã, de 75 novos irmãos
Diário de Coimbra (DC) Quais são os objectivos a que se propõe a Santa Casa da Misericórdia de Coimbra?
Aníbal Pinto de Castro (APC) Desde a nossa fundação, pela Rainha D. Leonor, em 12 de Setembro de 1500, que nos encontramos ao serviço daqueles que mais precisam de conforto para a alma e para o corpo. Os nossos objectivos centram-se, com efeito, no cumprimento integral das 14 obras de Misericórdia, na fiel esteira da mensagem do evangelista S. Mateus de que “Tudo aquilo que fizerdes a um desses meus irmãos mais pequeninos, é a mim que o fazeis.”.
DC Deste modo, a Misericórdia confunde-se ou não com a Igreja?
APC Somos Igreja. Embora sejamos uma instituição autónoma administrativa e financeiramente, com uma gestão própria e transparente, mantemos uma relação próxima com a cúria diocesana, a quem damos conta das nossas actividades.
DC Diz-se que a Misericórdia de Coimbra é uma instituição rica…
APC Rica, sim, mas em responsabilidades morais e sociais. Os bens que possuímos e que tentamos rentabilizar estão destinados a ajudar os mais necessitados, quer de uma forma directa, através do Colégio de S. Caetano, do CATI - Centro de Apoio à Terceira Idade, e de arrendamentos compatíveis com as possibilidades sociais de cada arrendatário. Alguns outros, poucos, que garantem alguns proventos mais significativos, são utilizados em ajudas sociais, que se revestem das mais variadas formas. São, enfim, o nosso suporte para acções de bem-fazer. Os bens da Misericórdia são, na verdade, património dos pobres da cidade de Coimbra, que nos incumbimos de tentar bem gerir, no sentido de os valorizar para lhes prestar uma melhor assistência. E são cada vez mais os que dela precisam…
DC Há quem verbere, em detrimento de maiores empenhamentos pessoais, o que dizem ser uma proliferação de instituições de solidariedade social ligadas à Igreja…
APC Infelizmente, pela conjuntura sócio-económica em que vivemos, essa é, efectivamente, uma realidade. No entanto, julgamos que devia haver uma atenção especial para as instituições que, como a Misericórdia de Coimbra, vêm de há já 500 anos, e cuja acção podia ser mais valorizada se tivéssemos um maior apoio das comunidades cristãs da cidade. Aqui deixava também uma chamada de atenção para as restantes instituições que, como nós, devem zelar pelo bem do próximo, a fim de que, criando sinergias, gizemos, juntos, um plano para, na medida das nossas possibilidades, diminuir as carências que todos os dias nos entram pelos olhos, à medida que circulamos na Cidade. Com efeito, uma acção concertada e diversificada revela-se tanto mais importante, quanto é cada vez mais grave a crise que nos assola, a exigir respostas prontas e uma maior atenção de todos os cidadãos empenhados na dignidade humana. Paralelamente, a Misericórdia tem ainda responsabilidades culturais que não pode descurar em absoluto, como é o caso do seu Museu, Arquivo e Capela, espaços ainda hoje procurados por muitos estudiosos e não menos curiosos, dadas as suas particulares artísticas. Este acervo documental e artístico tem de continuar a empenhar-nos, para garantirmos o acesso a um património com mais de 500 anos de história.
DC Particularizando a nossa conversa na acção social, quais são as valências da Santa Casa?
APC Actualmente, temos a funcionar o Centro de Apoio à Terceira Idade, em S. Martinho do Bispo, com as valências de Lar, Centro de Dia e Serviço de Apoio Domiciliário, com os quais garantimos habitação a quem não tem um lar, ocupação de tempos livres para os que estão sós, e fornecimento de alimentação e serviços de higiene aos que ainda podem permanecer na sua residência. Esta última valência é para nós ponto de honra, porque a entendemos como forma de não desenraizarmos as pessoas dos seus enquadramentos naturais. Neste Centro, prestamos ainda um serviço de enfermagem diário e contamos, também, com o auxílio de um grupo de médicos voluntários e de pessoas que, altruisticamente, connosco colaboram, de que é exemplo cabal, neste momento, o acompanhamento dos idosos a uma colónia de férias na Figueira da Foz, entre outras muitas actividades que, quotidianamente, são realizadas.
DC Têm ainda o Colégio de S. Caetano...
APC Trata-se de um lar de infância e juventude, que acolhe crianças e jovens dos 6 aos 18 anos, ali colocados pelo Tribunal de Família e Menores e pela Comissão de Protecção de Crianças e Jovens, quando se verificam situações de risco. O trabalho que realizamos com estes jovens visa, sobretudo, a sua reintegração familiar ou, quando esta não se poder realizar, a sua preparação para uma inserção social autónoma. Também aqui contamos com o apoio de um grande número de voluntários, em nome individual ou colectivo. Neste conjunto, apoiamos mais duas centenas de pessoas de forma directa. Indirectamente, apoiamos mais 25 através do serviço de HelpPhone.
DC Faltava a creche…
APC Vamos abrir a Creche Margarida Brandão, na Rua Brigadeiro Correia Cardoso, para um total de 48 crianças dos 3 meses aos três anos, construída no âmbito do Programa de Alargamento das Redes de Equipamentos Sociais (PARES). Trata-se de uma valência essencial à cidade, estando, neste momento, a decorrer as inscrições para o ano lectivo de 2010- 2011. Com esta nova valência, pretendemos prestar um serviço de qualidade às crianças e aos pais, numa procura constante da resposta às necessidades que a sociedade impõe. Neste campo, estamos a pensar alargar o horário de funcionamento, sobretudo ao fim-de-semana, até à meia-noite, à semelhança, aliás, do que já vem acontecendo, e com muito sucesso, em outras cidades do país.
DC E que outros projectos têm ?
APC No próximo ano, teremos já a funcionar uma nova residência para doentes de Alzheimer, unidade de grande complexidade e que envolverá um grande esforço financeiro por parte da Santa Casa, mas com a qual daremos resposta a uma das maiores carências do distrito de Coimbra. Esta obra, já em fase de concurso público, conta com o apoio do QREN, através do Programa Operacional MaisCentro, inserido no âmbito da parceria para a regeneração urbana “Cidade Univer(sc)idade: regenerar e revitalizar o centro histórico de Coimbra”. Esta iniciativa permitir-nos-á, também, contribuir para a revitalização da Alta da cidade, que é, afinal, o nosso espaço de actividade privilegiado. Este equipamento conduzirá ainda à requalificação do jardim histórico da Cerca de Santo Agostinho, antiga Quinta dos Frades, assim revivificando um espaço urbano que se constituirá em mais uma zona verde aberta à cidade na sua zona histórica. Aliás, por falar em Alta, estamos também empenhados na reabilitação de alguns edifícios de arrendamento social, cujas condições de habitabilidade pretendemos melhorar, como é o caso da Rua do Colégio Novo e da Matemática. Igual desiderato levámos já a efeito na cidade do Porto. No campo das remodelações/reestruturações, a nossa maior preocupação é o Centro de Apoio à Terceira Idade, edifício propriedade do Instituto de Segurança Social, uma vez que as suas condições físicas vão demonstrando, a cada dia, uma deterioração que não se compagina com a qualidade dos serviços que nele pretendemos prestar e que as pessoas que nele vivem merecem. Esta degradação vem acentuando um continuado – e inglório – esforço financeiro da Santa Casa, dado o desinvestimento da Segurança Social num edifício que, afinal, é seu, e numa missão que é, acima de tudo, sua.
DC Além destes, há ainda algum outro grande projecto futuro da Misericórdia?
APC Sim. Existe o desejo da construção de um campus social, num espaço privilegiado na zona de Banhos de Secos, que nos permitiria instalar quer os jovens, quer os seniores, numa reposta social mais capaz e completa, a fim de lhes tentar compensar as agruras da vida. Este é o grande propósito da Misericórdia. Deus nos dê forças para o conseguirmos concretizar.
DC Mas a Misericórdia não é um repositório de passado, não de presente, e muito menos de futuro?
APC A essa pergunta respondo-lhe, em breves palavras, com a admissão, amanhã, de mais de 75 novos Irmãos, que se vêm constituir na seiva renovada, garantia do hoje e, sobremaneira, do amanhã.
Diário de Coimbra
SANTA CASA DE COIMBRA
Misericórdia abre creche e pensa
já num futuro “campus social”
Em entrevista ao Diário de Coimbra, o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Coimbra, Aníbal Pinto de Castro revela os projectos em curso no apoio “aos mais carenciados”. Sobre o “envelhecimento” da instituição responde com a admissão, amanhã, de 75 novos irmãos
Diário de Coimbra (DC) Quais são os objectivos a que se propõe a Santa Casa da Misericórdia de Coimbra?
Aníbal Pinto de Castro (APC) Desde a nossa fundação, pela Rainha D. Leonor, em 12 de Setembro de 1500, que nos encontramos ao serviço daqueles que mais precisam de conforto para a alma e para o corpo. Os nossos objectivos centram-se, com efeito, no cumprimento integral das 14 obras de Misericórdia, na fiel esteira da mensagem do evangelista S. Mateus de que “Tudo aquilo que fizerdes a um desses meus irmãos mais pequeninos, é a mim que o fazeis.”.
DC Deste modo, a Misericórdia confunde-se ou não com a Igreja?
APC Somos Igreja. Embora sejamos uma instituição autónoma administrativa e financeiramente, com uma gestão própria e transparente, mantemos uma relação próxima com a cúria diocesana, a quem damos conta das nossas actividades.
DC Diz-se que a Misericórdia de Coimbra é uma instituição rica…
APC Rica, sim, mas em responsabilidades morais e sociais. Os bens que possuímos e que tentamos rentabilizar estão destinados a ajudar os mais necessitados, quer de uma forma directa, através do Colégio de S. Caetano, do CATI - Centro de Apoio à Terceira Idade, e de arrendamentos compatíveis com as possibilidades sociais de cada arrendatário. Alguns outros, poucos, que garantem alguns proventos mais significativos, são utilizados em ajudas sociais, que se revestem das mais variadas formas. São, enfim, o nosso suporte para acções de bem-fazer. Os bens da Misericórdia são, na verdade, património dos pobres da cidade de Coimbra, que nos incumbimos de tentar bem gerir, no sentido de os valorizar para lhes prestar uma melhor assistência. E são cada vez mais os que dela precisam…
DC Há quem verbere, em detrimento de maiores empenhamentos pessoais, o que dizem ser uma proliferação de instituições de solidariedade social ligadas à Igreja…
APC Infelizmente, pela conjuntura sócio-económica em que vivemos, essa é, efectivamente, uma realidade. No entanto, julgamos que devia haver uma atenção especial para as instituições que, como a Misericórdia de Coimbra, vêm de há já 500 anos, e cuja acção podia ser mais valorizada se tivéssemos um maior apoio das comunidades cristãs da cidade. Aqui deixava também uma chamada de atenção para as restantes instituições que, como nós, devem zelar pelo bem do próximo, a fim de que, criando sinergias, gizemos, juntos, um plano para, na medida das nossas possibilidades, diminuir as carências que todos os dias nos entram pelos olhos, à medida que circulamos na Cidade. Com efeito, uma acção concertada e diversificada revela-se tanto mais importante, quanto é cada vez mais grave a crise que nos assola, a exigir respostas prontas e uma maior atenção de todos os cidadãos empenhados na dignidade humana. Paralelamente, a Misericórdia tem ainda responsabilidades culturais que não pode descurar em absoluto, como é o caso do seu Museu, Arquivo e Capela, espaços ainda hoje procurados por muitos estudiosos e não menos curiosos, dadas as suas particulares artísticas. Este acervo documental e artístico tem de continuar a empenhar-nos, para garantirmos o acesso a um património com mais de 500 anos de história.
DC Particularizando a nossa conversa na acção social, quais são as valências da Santa Casa?
APC Actualmente, temos a funcionar o Centro de Apoio à Terceira Idade, em S. Martinho do Bispo, com as valências de Lar, Centro de Dia e Serviço de Apoio Domiciliário, com os quais garantimos habitação a quem não tem um lar, ocupação de tempos livres para os que estão sós, e fornecimento de alimentação e serviços de higiene aos que ainda podem permanecer na sua residência. Esta última valência é para nós ponto de honra, porque a entendemos como forma de não desenraizarmos as pessoas dos seus enquadramentos naturais. Neste Centro, prestamos ainda um serviço de enfermagem diário e contamos, também, com o auxílio de um grupo de médicos voluntários e de pessoas que, altruisticamente, connosco colaboram, de que é exemplo cabal, neste momento, o acompanhamento dos idosos a uma colónia de férias na Figueira da Foz, entre outras muitas actividades que, quotidianamente, são realizadas.
DC Têm ainda o Colégio de S. Caetano...
APC Trata-se de um lar de infância e juventude, que acolhe crianças e jovens dos 6 aos 18 anos, ali colocados pelo Tribunal de Família e Menores e pela Comissão de Protecção de Crianças e Jovens, quando se verificam situações de risco. O trabalho que realizamos com estes jovens visa, sobretudo, a sua reintegração familiar ou, quando esta não se poder realizar, a sua preparação para uma inserção social autónoma. Também aqui contamos com o apoio de um grande número de voluntários, em nome individual ou colectivo. Neste conjunto, apoiamos mais duas centenas de pessoas de forma directa. Indirectamente, apoiamos mais 25 através do serviço de HelpPhone.
DC Faltava a creche…
APC Vamos abrir a Creche Margarida Brandão, na Rua Brigadeiro Correia Cardoso, para um total de 48 crianças dos 3 meses aos três anos, construída no âmbito do Programa de Alargamento das Redes de Equipamentos Sociais (PARES). Trata-se de uma valência essencial à cidade, estando, neste momento, a decorrer as inscrições para o ano lectivo de 2010- 2011. Com esta nova valência, pretendemos prestar um serviço de qualidade às crianças e aos pais, numa procura constante da resposta às necessidades que a sociedade impõe. Neste campo, estamos a pensar alargar o horário de funcionamento, sobretudo ao fim-de-semana, até à meia-noite, à semelhança, aliás, do que já vem acontecendo, e com muito sucesso, em outras cidades do país.
DC E que outros projectos têm ?
APC No próximo ano, teremos já a funcionar uma nova residência para doentes de Alzheimer, unidade de grande complexidade e que envolverá um grande esforço financeiro por parte da Santa Casa, mas com a qual daremos resposta a uma das maiores carências do distrito de Coimbra. Esta obra, já em fase de concurso público, conta com o apoio do QREN, através do Programa Operacional MaisCentro, inserido no âmbito da parceria para a regeneração urbana “Cidade Univer(sc)idade: regenerar e revitalizar o centro histórico de Coimbra”. Esta iniciativa permitir-nos-á, também, contribuir para a revitalização da Alta da cidade, que é, afinal, o nosso espaço de actividade privilegiado. Este equipamento conduzirá ainda à requalificação do jardim histórico da Cerca de Santo Agostinho, antiga Quinta dos Frades, assim revivificando um espaço urbano que se constituirá em mais uma zona verde aberta à cidade na sua zona histórica. Aliás, por falar em Alta, estamos também empenhados na reabilitação de alguns edifícios de arrendamento social, cujas condições de habitabilidade pretendemos melhorar, como é o caso da Rua do Colégio Novo e da Matemática. Igual desiderato levámos já a efeito na cidade do Porto. No campo das remodelações/reestruturações, a nossa maior preocupação é o Centro de Apoio à Terceira Idade, edifício propriedade do Instituto de Segurança Social, uma vez que as suas condições físicas vão demonstrando, a cada dia, uma deterioração que não se compagina com a qualidade dos serviços que nele pretendemos prestar e que as pessoas que nele vivem merecem. Esta degradação vem acentuando um continuado – e inglório – esforço financeiro da Santa Casa, dado o desinvestimento da Segurança Social num edifício que, afinal, é seu, e numa missão que é, acima de tudo, sua.
DC Além destes, há ainda algum outro grande projecto futuro da Misericórdia?
APC Sim. Existe o desejo da construção de um campus social, num espaço privilegiado na zona de Banhos de Secos, que nos permitiria instalar quer os jovens, quer os seniores, numa reposta social mais capaz e completa, a fim de lhes tentar compensar as agruras da vida. Este é o grande propósito da Misericórdia. Deus nos dê forças para o conseguirmos concretizar.
DC Mas a Misericórdia não é um repositório de passado, não de presente, e muito menos de futuro?
APC A essa pergunta respondo-lhe, em breves palavras, com a admissão, amanhã, de mais de 75 novos Irmãos, que se vêm constituir na seiva renovada, garantia do hoje e, sobremaneira, do amanhã.
Diário de Coimbra
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