terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Santa Casa da Misericórdia de Nisa

Misericórdia Nisa Homenageou D. António




“Nunca me senti tão rico como agora que não tenho nada”. Foi com esta frase, escrita pelo punho de D. António Lobo da Silveira nas costas de uma fotografia e que descreve bem a sua personalidade e desprendimento, que José Joaquim Carmona concluiu a palestra de homenagem a este benemérito, organizada pela Santa Casa da Misericórdia de Nisa a 26 de Novembro.
Realizada no ano em que se assinala o 50ª aniversário da morte de D. António Lobo da Silveira, ocorrida em Lisboa a 16 de Fevereiro de 1961, a iniciativa procurou homenagear e recordar este benemérito que, em 1945, na sequência da morte da esposa e cumprindo o desejo desta e de seu pai, doou a sua fortuna à Santa Casa da Misericórdia de Nisa para que fosse criado o Asilo de Nossa Senhora da Graça – Fundação Lopes Tavares.
Foi precisamente pela genealogia e origens familiares do homenageado e da sua esposa, D. Palmira Fialho Ferro Lopes Tavares, que o professor José Joaquim Carmona, orador convidado pela Santa Casa, iniciou a sessão, recuando ao séc. XV para encontrar as origens da família Lobo da Silveira, descendente do primeiro barão de Alvito, e à região da Beira, no séc. XVII, local de origem da família Lopes Tavares.
Para além da generosidade e contribuição decisiva para que a Santa Casa de Nisa pudesse alargar a sua missão de apoiar aqueles que mais necessitam – e que continua nos dias de hoje -, o orador destacou outras facetas da personalidade de D. António Lobo da Silveira, como a sua passagem pela presidência da Sociedade Portuguesa de Belas Artes e o convívio com os artistas mais importantes da época – de Columbano Bordalo Pinheiro a Carlos Reis -, o seu sentido de humor ou o gosto pelas coisas simples da vida, que o levou a preferir passar a maior do tempo, quando vinha a Nisa, na sua horta, que apelidava de “Covil dos Lobos”, em vez de pernoitar no quarto que tinha reservado na Santa Casa da Misericórdia.
Numa palestra que José Joaquim Carmona preferiu chamar de “conversa” entre pessoas que conviveram com o homenageado, os convidados, amigos e utentes da instituição não deixaram de se juntar ao diálogo para recordar o benfeitor, incluindo a sobrinha Rosa Lopes Morais, que juntamente com o irmão se deslocou propositadamente a Nisa, onde lembrou o “ambiente agradável” que se vivia em casa do tio, que descreveu como uma “pessoa muito especial” e “com um sentido de humor muito grande”.
Também Maria da Cruz Marzia, neta dos caseiros que tomavam conta do “Covil dos Lobos” e que na infância conviveu com D. António, contou como era simples a casa da horta, embora preenchida de livros e fotografias, e como o seu proprietário apreciava as comidas tradicionais. “Era um homem que queria viver humildemente”, concluiu.
Esse mesmo desejo transparece na frase que escreveu nas costas de uma pequena fotografia sua e com que José Joaquim Carmona concluiu a palestra, não sem antes oferecer à Santa Casa da Misericórdia uma cópia onde a expressão surge destacada.
A sessão de homenagem terminaria com o descerramento de uma placa evocativa, na base do busto de D. António já existente na entrada principal da Misericórdia de Nisa, e com a realização de uma missa na igreja da instituição.
Teresa Melato
[Publicado na edição de 30 de Dezembro de 2011 do Jornal de Nisa (n.º 32, II Série)]

Sem comentários: