O que espera da próxima Assembleia-Geral da Misericórdia?
Espero que as pessoas estejam melhor informadas do que estiveram na última. Acha que a decisão de recusar a transferência de acções para uma nova sociedade deveu-se a uma questão de desinformação?
Absolutamente.
O Hospital está, neste momento, numa fase de reabilitação e a seguir um modelo de auto-sustentabilidade que não dependa de maiores ou menores influências do sistema público, apostando em áreas que são claramente afectas ao sector privado na área da saúde.
Está, por exemplo, a ser desenvolvido um Centro de Medicina e Traumatologia do Desporto, que será uma coisa de grande dimensão para a região, e, neste momento, já temos todos os meios auxiliares de diagnóstico com convenções, nomeadamente com o SNS. Temos também a promessa que será assinado durante este mês de Janeiro o protocolo com a ADSE para mais convenções. Foi o atraso na obtenção dessas convenções que levaram a que o Hospital tivesse problemas de liquidez?
Dificultaram.
Nos últimos dois, três anos as convenções estiveram praticamente bloqueadas e estes processos burocráticos podem levar a grandes flutuações do ponto de vista de implementação de actividades.
Mas este é um projecto importante para a região e importante para a CESPU. É tão importante que a CESPU tem, até hoje, investidos neste Hospital 3,4 milhões de euros. Quanto é que já foi investido no Hospital?
No total estamos a falar de 5,5 milhões de euros. E qual o montande da dívida?
Chegou a estar previsto para o primeiro trimestre de 2009 um endividamento máximo de sete milhões de euros, mas, em Agosto de 2011, esse valor era de 3,7 milhões.
Portanto, quando se diz que é necessário dinheiro neste momento é para renegociar o endividamento e reforçar os serviços do Hospital. A CESPU e a Misericórdia ao associarem-se na criação de uma empresa chamada PRD – Solidária podem perfeitamente alienar uma parte das participações – só precisam de ter 51% para serem dominantes – e com isso alavancar a criação de uma unidade de cuidados continuados e de residências geriátricas na parte de trás do edifício do Hospital. Estamos a falar de qualquer coisa como 120 camas que vinham melhorar a capacidade do concelho na área da geriatria para a qual não existe oferta. Com uma dívida bancária de 3,7 milhões de euros porquê a necessidade de contrair um empréstimo de 7,5 milhões?
O que se pretende é substituir a dívida actual por uma outra dívida esticada de forma diferente no tempo.
Os 7,5 milhões de euros seriam, então, para pagar os 3,7 milhões de euros referentes ao actual endividamento bancário, mais uns leasings periféricos e para resolver algumas dívidas a fornecedores.
O objectivo é tornar o período de dívida mais extenso para que os encargos trimestrais sejam mais reduzidos. Há, entre os irmãos da Misericórdia, quem defenda que este empréstimo de 7,5 milhões de euros só será possível de contrair dando como garantia o edifício do Hospital. Isto é verdade?
As negociações com a banca não passaram por aí.
Mas, em última instância e se a banca entender que para termos as melhores condições de financiamento é preciso dar como garantia o edifício, a CESPU estará disponível para dar as suas acções à Misericórdia como garantia. Maior sinal do que este a CESPU não pode dar.
Mas não é necessário. Está negociado com duas entidades bancárias um empréstimo sem que seja dado o edifício como garantia. Os opositores desta medida defendem que o Hospital não tem capacidade para pagar os custos de funcionamento e muito menos terá capacidade para pagar os 7,5 milhões de euros da dívida a contrair. Como é que responde a isto?
Estando neste momento as convenções aprovadas, tenho a garantia da direcção que, no final de 2012, o Hospital é auto-suficiente do ponto de vista de garantir os custos fixos. Ainda não será o suficiente para pagar o serviço de dívida, mas terá receitas suficientes para ser autónomo e os accionistas não terão de meter dinheiro para pagar a fornecedores e a pessoal. Enquanto o Hospital não tiver condições para pagar os encargos com o financiamento, quem será responsável por essa despesa?
Os 7,5 milhões de euros são para prolongar a dívida o tempo suficiente até ao Hospital a poder pagar. Qual será a posição da CESPU caso a Assembleia-Geral da Misericórdia volte a vetar a transferência das acções do Hospital para a PRD – Solidária e a contracção do empréstimo?
Em primeiro lugar, a Misericórdia vai ter, caso não rectifique estes pontos, dizer qual a solução que quer dar ao problema.
Mas acho que essa questão vai ser ultrapassada, porque as pessoas não estavam suficientemente informadas. Pensavam que era para pedir mais 7,5 milhões de euros, o que não é verdade. Mas o que acontece se os irmãos mantiverem o veto?
A CESPU fez sempre aquilo que esteve ao seu alcance, ou seja financiou sempre que isso foi possível. Chegou a altura de os outros accionistas assumirem as suas responsabilidades. Mas podemos chegar a um impasse…
Acho que não há ninguém com coragem, até porque seria de uma enorme responsabilidade, para matar um projecto destes.
Garanto que a CESPU encontrará uma solução para defender os seus interesses. Que poderá passar pela aquisição das acções da Misericórdia?
A Misericórdia vai ter de tomar uma posição. Não pode inviabilizar por inviabilizar e a CESPU terá de encontrar um parceiro que queira contibuir para a solução. Mas eu não quero ir por esse caminho, porque já demorámos muito tempo a ter este parceiro que é a Misericórdia.
Passaram anos para se criar uma confiança entre as duas instituições, que permitiu chegar ao casamento. Mas se não nada for feito tal será entendido como um divórcio em todos os sentidos e uma das partes teria de abdicar da sua posição.
A CESPU não abdicará, mas também estou convencido que a Misericórdia não o fará. verdadeiroolhar.pt |
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