Quando um telefonema pode salvar uma vida
A Santa Casa da Misericórdia do Porto está a ajudar idosos isolados e com baixos rendimentos através de um programa de teleassistência e voluntariado.
Projeto ajuda idosos solitários
Projeto "Chave de Afetos"A Santa Casa da Misericórdia do Porto tem em curso um projeto para apoiar idosos isolados através de teleassistência e voluntariado. © Alice Barcellos/SAPO
São escadas íngremes de pedra fria que dão acesso às casas de Maria Isabel Alves, 92 anos, e José Fonseca, 82. Os dois idosos estão na lista dos primeiros beneficiários do projeto “Chave de Afetos”.
Com o frio a apertar e a dificuldade em descer as escadas, Maria Isabel não sai de casa há vários meses. Passa os dias sozinha na sua pequena e modesta habitação na freguesia de Cedofeita, no Porto.
Mas o cenário de solidão é alterado quando todos os dias às 10h30 da manhã Maria Isabel é chamada, através de um aparelho telefónico colocado no seu quarto, e quando três vezes por semana recebe a visita de uma voluntária da Santa Casa da Misericórdia.
O telefonema é feito também por voluntários que ligam a Maria Isabel para conversar um pouco, lembrar os horários dos medicamentos ou de consultas médicas.
Por sua vez, a idosa usa sempre uma pulseira com um botão. Numa situação de urgência, Maria Isabel pode carregar no botão e será imediatamente atendida, através do mesmo aparelho que usa todas as manhãs, por um voluntário que irá ativar uma rede de apoio, que conta também com a ajuda de instituições no terreno e vizinhos. “Até agora nunca carreguei no botão, graças a Deus”, diz Maria Isabel ao SAPO.
Também em Cedofeita, numa daquelas ruas que fazem parte de um Porto quase esquecido, José Fonseca sente-se “mais assistido” desde que integrou o projeto “Chave de Afetos”. “É como se tivesse mais uma bengala ao lado”, conta. O idoso, que vive sozinho há sete anos, destaca “as pessoas amáveis” e a possibilidade de conviver mais através deste projeto.
Reforçar segurança e quebrar medos
“Considerando o aparecimento de muitos casos de idosos que acabaram mal, porque não foram socorridos e viviam sozinhos, o provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto idealizou este projeto”, explica ao SAPO Ana Maria Pimentel, gestora do “Chave de Afetos”.
O programa arrancou em setembro de 2011 com estas duas vertentes: a tecnológica e a humana. O aparelho de teleassistência é uma “presença constante na casa dos idosos, permitindo-lhes sentir-se mais aconchegados”, diz a responsável.
Já os 10 voluntários do projeto “tiveram formação para que ficassem com alguns instrumentos que lhes dessem segurança e eficácia na intervenção junto do idoso”, refere Ana Maria Pimentel.
Atualmente, 31 idosos de seis freguesias do Porto (Cedofeita, Sé, Miragaia, São Nicolau, Vitória e Paranhos) são beneficiados pelo programa gratuito. Podem entrar nesta rede de apoio aqueles que “vivam sozinhos e tenham condições económicas deficitárias, com rendimentos abaixo dos 500 euros”, caracteriza a gestora do projeto.
Desde dezembro de 2011, a Santa Casa da Misericórdia conta com a parceria da PSP neste programa. O próximo passo é chegar aos 50 idosos e a outras freguesias da cidade. Ana Maria Pimentel assegura que o “Chave de Afetos” foi “um passo significativo para reforçar a segurança destes idosos e quebrar alguns medos”.
Alice Barcellos
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