sexta-feira, 2 de abril de 2010

Santa Casa da Misericórdia de Braga

Ruas apinhadas de gente a ver farricocos, reco-recos e fogaréus
Braga
00h30m
NUNO CERQUEIRA
Procissão do Ecce Homo percorreu casco velho da cidade sob o olhar de milhares.

"Eis o Homem!". Na frente seguiam farricocos, uns suportavam enormes fogaréus e outros, ruidosamente, acordaram as mais de 80 mil pessoas que, apesar da chuva, preencheram, ontem à noite, o casco velho da cidade de Braga, ao som de gigantes reco-recos.

Mais atrás, milhares de figurantes e figuras "imperiais" da "Roma Portuguesa" encerravam a santa procissão. Monocordicamente ouvia-se "Ecce Homo" e o granito da cidade, onde o barroco impera naquela que foi uma das "augustas cidades", deu lugar ao roxo vivo em sinal de luto premeditado que chega amanhã com a morte do "Rei dos Judeus".

Também conhecida como procissão "Ecce Homo" (eis o homem!) ou simplesmente como a procissão dos "fogaréus", eis que é uma famalicense a recordar, ao JN, que há quem chame àquela enorme demonstração viva da Bíblia, procissão do "Senhor da Cana Verde". Ana Leitão, a trabalhar em Braga, explica que a denominação " tem a ver com a imagem do Cristo coroado de espinhos, com uma cana metida por entre as mãos atadas, evocando o momento em que Pilatos apresentou assim Cristo à multidão, dizendo Eis o Homem".

Embora por entre a multidão, houvesse quem tivesse outra explicação "tem a ver com o milho que é o pão do Senhor e que Ele deu na última ceia, acho eu. Este acto faz também a ligação com o vinho, aliás esses dois elementos estão sempre ligados na Igreja e presente na eucaristia", afirma Alberto Costa, de Chaves, junto ao ponto de saída da procissão, também de chegada, a igreja da misericórdia.

Mais acima, em plena Rua do Souto, Bárbara Santos, do Porto, estava perplexa face à imponência da procissão. Confessou, ao JN, que "é das procissões mais bonitas que já viu" e continuou dizendo: "As figuras dos homens de negro, com os reco-recos gigantes, é assustadora mas dá um ar muito particular à procissão".

O exótico grupo dos farricocos, vestidos com grosseiras roupas pretas de penitência, vão descalços, de cordas à cinta e encapuçados. Como outrora os penitentes públicos, levam nas mãos matracas e fogaréus (taças com pinhas a arder), daí chamar-se também "procissão dos fogaréus". Integrados na procissão, revestem um simbolismo diferente. Evocam os guardas que, munidos de archotes, foram de noite prender Jesus.

Já noutro ponto, uma bracarense revelava outro detalhe: "Hoje os anjinhos vão sem os véus, cantando pelas ruas, porque festejam o Senhor enquanto vivo, aliás, celebram a última ceia de Jesus... ", explicou Andreia Ferreira.

JN

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