domingo, 20 de novembro de 2011

Santa Casa da Misericórdia de Alcobaça

“A Misericórdia está expectante quanto à devolução do Hospital”
O provedor da Santa Casa da Misericórdia de Alcobaça diz que a instituição está preparada para receber o Hospital Bernardino Lopes de Oliveira e torná-lo numa unidade privada. Nesse cenário, João Carreira garante a prestação de cuidados de saúde à população.
REGIÃO DE CISTER (RC) > É provedor da Santa Casa da Misericórdia, integra a Direcção do Clube de Campismo, preside à Direcção do Clube de Ténis, está na associação Amigos do Mosteiro de Alcobaça, está ligado aos Licores Abacial e ao Deutsche Bank. Ainda joga ténis e é avô. Como gere tudo isto?
JOÃO CARREIRA (JC) > Por vezes é difícil e não consigo conciliar as coisas em termos de "timmings". Uma coisa que gosto de privilegiar é a pontualidade e, algumas vezes, estou em reuniões que demoram mais do que o tempo previsto. Em termos de pontualidade, não consigo estar a horas sempre que quero. Mas faço um esforço.
RC > Qual é a actividade que distingue de todas estas?
JC > Depois de deixar o activo bancário, fui juiz social. Foi uma actividade muito gratificante que me transmitiu muito em termos humanitários. Porque parece que é mais uma coisa, mas não. Aquilo toca muito porque estamos muitas vezes a tratar da vida dos outros. O grosso das acções era para discutir o poder paternal. Uma vez assisti a um caso no qual a senhora estava a tentar negociar a paternidade da criança. Estava a querer vendê-la a outras pessoas. Depois acabou tudo de forma normal... Não tenho dúvidas de que uma das actividades que mais me tocou foi a de juiz social. É muito forte. Temos um papel equiparado a juiz sem ter habilitações para isso.
RC > A Santa Casa da Misericórdia é uma instituição com muito peso...
JC > É das mais antigas do País. Temos 450 anos. Nos séculos passados, a Santa Casa era uma instituição à volta da qual tudo gravitava. Tinha uma importância muito grande. Até servia de banco.
RC > Como se resolve o problema das longas listas de espera de idosos que não têm vaga nos lares?
JC > É muito difícil de o conseguir, porque a população idosa está a aumentar e as respostas têm de ser cada vez maiores. Nós temos um terreno contíguo à Santa Casa, que tem 12 mil metros quadrados. Uma das coisas que pretendemos fazer ali é uma unidade de cuidados continuados ou apartamentos para aqueles idosos que têm alguma autonomia e disponibilidade financeira. Essas residências podem ser comercializadas através de renda resolúvel ou de usufruto enquanto vivos. E o edifício voltaria à posse da Santa Casa. É algo que estamos a estudar.
RC > Como se explica o facto de o concelho ter cinco Misericórdias?
JC > É um caso invulgar. Alcobaça é dos concelhos do País que melhor cobertura tem em termos de instituições e equipamentos na área social. E, ainda assim, não chega... Hoje privilegia-se o apoio domiciliário. Nós procuramos privilegiar esse apoio 24 horas por dia.
RC > Preocupa-o pessoalmente a velhice?
JC > Não. Até é engraçado. O convívio e o trabalho com os nossos velhinhos faz-nos aprender. Há muitas histórias e vivências para contar.
RC > Tendo em conta as perspectivas de construção de um novo hospital comum ao Oeste, qual a posição da Misericórdia relativamente ao seu edifício?
JC > A posição da Santa Casa é a de estar atenta e ao mesmo tempo expectante quanto à devolução do hospital. Se a devolução se efectivar, como esperamos, temos ali espaço e condições para dar assistência à terceira idade, sobretudo, através da tal unidade de cuidados continuados. Penso que essa devolução vai mesmo acontecer. Com a construção do Hospital Oeste Norte e a transferência dos serviços existentes para a nova estrutura, o que ainda poderá demorar três ou quatro anos, o edifício em Alcobaça tornar-se-á num peso morto para o Estado. Não acredito que o Ministério da Saúde mantenha uma unidade em Alcobaça tão próxima do novo Hospital Oeste Norte.
RC > É isso que quer para a cidade, a ausência de um hospital?
JC > A Misericórdia tem um papel importante nesta matéria. Já tivemos o hospital todo a nosso cargo. Sou do tempo em que tinha de se pedir crédito aos talhos, aos bancos e aos médicos para ter o hospital a funcionar... Era tesoureiro na década de 1970, antes da revolução, e sentia os problemas financeiros da Santa Casa, porque nós é que tínhamos de pagar tudo. Não havia subsídios do Estado e andávamos sempre com as contas à justa... Temos experiência na gestão hospitalar e essa é, aliás, uma das vocações das Misericórdias. Se o Hospital de Alcobaça nos for devolvido, não quer dizer que não tenhamos valências para os beneficiários da nossa região.
RC > Seria um projecto privado?
JC > Sim, mas não nos inibe de continuarmos a dar assistência à população. Seria um projecto privado a preços sociais. Há dias, estive no Bombarral na visita do Presidente da República e pude notar que o hospital local é gerido pela Misericórdia. Estou convencido que a nível nacional as Misericórdias têm mais hospitais do que até o próprio Estado.
texto/fotos
JOAQUIM PAULO e ana ferraz pereira

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