sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Santa Casa de Misericórdia de Benavente

Famílias estão a tentar retirar idosos do lar por causa das dificuldades económicas
Misericórdia de Benavente não vai permitir que alguém passe fome
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A Misericórdia de Benavente deixou de ter comparticipações do Estado em algumas consultas de especialidade no hospital da instituição. Com menos rendimentos e com mais pedidos de ajuda de pessoas pobres, a situação vai complicar-se no próximo ano.

O provedor da Santa Casa de Misericórdia de Benavente, Norte Jacinto, acredita que os pedidos de ajuda à instituição vão aumentar no início do próximo ano. Já existem muitas famílias que estão a tentar retirar os idosos dos lares da Santa Casa por não terem dinheiro. O apoio para a área social da Misericórdia de Benavente resulta do lucro ganho na saúde. Situação que se complica tendo em conta a quebra do protocolo assinado em Março entre a instituição e a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARS-LVT) que passou algumas consultas do Hospital da Misericórdia para o Hospital de Vila Franca de Xira.
“Os pedidos de ajuda não aumentaram muito porque a maioria das pessoas ainda não se compenetrou da situação que estamos a viver. Isto vai-se sentir no próximo ano”, alerta. A Misericórdia de Benavente não vai poder atender toda a gente, mas segundo o provedor existe um plano de contingência que não vai permitir que alguém passe fome. “Nem que seja só uma sopa, mas vamos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance”, acrescenta.
Embora os pedidos de ajuda ainda não tenham atingido um número preocupante, já existem muitas famílias que querem tirar os idosos do lar da Santa Casa de Misericórdia de Benavente. “Há já uma clara tentativa de retirar os idosos porque sempre entra mais um rendimento em casa, o da pensão. Embora não duvide que exista toda a componente afectiva, a maior parte das vezes não existem as condições físicas, especialmente para os mais dependentes”, alerta o provedor.
Para piorar o quadro a instituição está a ver-se privada de verbas para a área social, que vinham da área da saúde. Recorde-se que desde o dia 1 de Julho que os utentes do concelho de Benavente deixaram de beneficiar das comparticipações do Serviço Nacional de Saúde em várias consultas da especialidade dadas no Hospital da Misericórdia, sendo obrigados a deslocarem-se para o Hospital de Vila Franca de Xira. Precisamente um mês após a gestão do Hospital de Vila Franca ter sido entregue à gestão do Grupo Mello.
Norte Jacinto acusa a ARS-LVT de ter quebrado o protocolo assinado em Março. Posteriormente vieram a abrir algumas especialidades para os utentes, já que o Hospital de Vila Franca não tinha capacidade de resposta. Nada que viesse minimizar as quebras já sentidas. Só no caso da fisioterapia, a Misericórdia que movimentava cerca de 30 mil euros por mês, passou em Agosto para os oito mil, com os mesmos profissionais a trabalhar.
Provedor à procura de soluções para salvar contas deste ano
Para contornar a quebra de produção no Hospital da Misericórdia, o provedor conseguiu com a ajuda dos médicos implementar consultas a baixo custo. “Quer na cardiologia, quer na dermatologia conseguimos passar as consultas para os 35 euros e as pessoas estão a aderir porque muitas vezes acabam por gastar o mesmo para ir a Lisboa ou Vila Franca”. Norte Jacinto tem sido incansável em encontrar estratégias que permitam ainda equilibrar as contas para este ano, mas se a situação se mantiver poderá ter de despedir alguns dos 130 funcionários no próximo ano. O prejuízo deste ano ainda não está contabilizado, mas adivinha que o próximo será problemático para a saúde. “Temos ainda algumas reservas que podem aguentar para mais um ano, mas depois não sei como será”, concluí.

O Mirante

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