segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Santa Casa da Misericórdia de Chaves

Santa Casa aguarda fim da investigação sobre suspeita de abuso sexual na Escola Agrícola e vai dar mesada aos alunos

Na sequência da queixa de um menor da Escola Agrícola por tentativa de abuso sexual, o novo Provedor da Santa Casa da Misericórdia, João Paulo Abreu, quer reforçar a componente pedagógica da escola e atribuir já a partir de Novembro uma mesada semanal de “valor simbólico” para ensinar os jovens a gerirem o próprio dinheiro e inibir as tentativas de aliciamentos da parte de terceiros.
No passado sábado 15 de Outubro, um menor residente há cerca de ano e meio na Escola de Artes e Ofícios Prof. Nuno Rodrigues, mais conhecida por Escola Agrícola, apresentou queixa por tentativa de abuso sexual na PSP de Chaves. O jovem terá sido vítima de abusos de um pastor de 50 anos, que já foi identificado pelas autoridades, durante a tarde numa das saídas autorizadas à cidade. Terá sido um colega da instituição que estava com ele, e fugiu, a dar o primeiro sinal de alerta às autoridades, tendo mais tarde o director da escola, Francisco Feijó, acompanhado a vítima ao posto policial para efectivar a queixa. Os dois jovens tinham idades compreendidas entre os 14 e 15 anos.
Após ter realizado exames médicos, a vítima regressou à Escola Agrícola, onde está a ser acompanhada pelos técnicos desta instituição da Santa Casa da Misericórdia de Chaves, que acolhe crianças e jovens sem protecção familiar dos 6 aos 18 anos, ou excepcionalmente até aos 21 anos. O caso está actualmente em segredo de justiça e “estamos a aguardar serenamente pelos resultados que a Polícia Judiciária vai conseguir averiguar”, informou à Voz de Chaves João Paulo Abreu, Provedor da Santa Casa da Misericórdia, em funções há cinco semanas.
Sobre os rumores de que haverá indivíduos a aliciar os menores com dinheiro e objectos de valor a troco de favores sexuais nas imediações da escola, João Paulo Abreu explicou que foram detectados “alguns equipamentos com valor patrimonial considerável, como telemóveis, na posse dos jovens”, o que “suscitou dúvidas aos responsáveis da escola”. Estas desconfianças já não são de hoje. “Os jovens que residem na Escola de Artes e Ofícios são jovens com dificuldades a vários níveis, cujas posses financeiras são bastante precárias e poderão ser alvos fáceis para esse tipo de pessoas que procura satisfazer as suas necessidades através de aliciamentos”, admite João Paulo Abreu.
Na sequência deste caso, o Provedor avançou que, além do alerta às autoridades “no sentido de um acompanhamento mais próximo”, a instituição irá atribuir uma mesada semanal aos alunos a partir do próximo dia 1 de Novembro. “Vamos dar um valor simbólico conforme o nível de ensino [1º ciclo e 2º/3º ciclo], mas com uma componente pedagógica muito importante, que é incutir-lhes a gestão do seu próprio dinheiro”, explicou João Paulo Abreu. O valor da mesada destinado aos pequenos gastos do dia-a-dia ainda não está fixado, mas não poderá ser demasiado elevado para não ser mal gasto em vícios.
Nova administração quer credibilizar Santa Casa e voltar a tornar a escola “agrícola”
Na sequência do caso, o Provedor da Santa Casa de Chaves reconheceu estar “preocupado com este tipo de situações que eventualmente possam surgir. Pedimos aos nossos técnicos para estarem muito atentos a todos os comportamentos e objectos na posse dos jovens”, mas nas saídas aos fins-de-semana, geralmente entre as 14h30 e 22h30, impostas pela Segurança Social, só as autoridades poderão actuar.
Neste caso, o jovem, bem como os pais, não eram da região, uma situação que a mesa administrativa e os técnicos da instituição querem alterar. “Entendemos que para fazer um trabalho sério, competente e atingir os objectivos para os quais existem estas respostas sociais, nomeadamente criar condições para que o jovem possa regressar à família de origem, além de trabalhar com ele, os técnicos também têm de trabalhar com os pais”, o que estando fora do distrito, se torna “tecnicamente muito complicado”, dando inclusive origem a fugas, criticou João Paulo Abreu, que promete alertar as autoridades competentes sobre esta situação.
A nova mesa administrativa está a desenhar uma estratégia para dar credibilidade a todas as valências sociais da Santa Casa. No caso da Escola Agrícola, que acolhe actualmente 55 jovens, tem planos para implementar actividades agrícolas de componente pedagógica no terreno envolvente, com vista a sensibilizar os jovens a cuidar da “sua casa” e recuperar a antiga filosofia de vida da escola.
Outro projecto é recuperar o polidesportivo, que “está num estado deteriorado e necessita urgentemente de uma intervenção”, nomeadamente a colocação de um relvado sintético, informou João Paulo Abreu, realçando que o principal objectivo é “criar condições para que as crianças sintam que têm uma segunda família e todo o apoio educativo e psicológico”. De resto, lembra, “é importante que a sociedade flaviense sinta que os jovens que estão a residir na Escola de Artes e Ofícios têm algumas carências a vários níveis, mas são seres humanos que precisam de uma atenção especial e devem ser acarinhados pela sociedade civil”, de forma a serem integrados na comunidade.
Sandra Pereira
@tual

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