terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Santa Casa da Misericórdia de Vieira do Minho e Santa Casa da Misericórdia de Ovar

Idosos: «Sente-se maltratado? Conte-nos a sua história»
Consultas de psicologia querem ajudar vítimas de maus-tratos, mas a sociedade tende a ignorar estes casos
Por: Catarina PereiraVota Resultado


Leia mais:
» Amarraram casal de idosos na própria casa
» Burlões de idosos detidos pela PSP
» «Banco de ajudas técnicas» aos idosos
» Ampliada rede de lares para idosos e deficientes
» Portal sénior informa sobre saúde, turismo e emprego + 55 anos
No dia em que a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) decidiu revelar que, em 2008, atendeu 650 idosos vítimas de maus-tratos, o PortugalDiário descobriu que poucos são os que procuram apoio.

Dentro do Grupo de Estudos e Avaliação das Pessoas Idosas Vítimas de Maus-Tratos (GEAVI), a Universidade do Minho, a Santa Casa da Misericórdia de Vieira do Minho, a Santa Casa da Misericórdia de Ovar e a Universidade de Coimbra disponibilizam consultas gratuitas aos idosos vítimas de maus-tratos, mas a vergonha e o preconceito fazem com que os números sejam mínimos: foram atendidas cinco pessoas ao todo, mais «algumas» por telefone.

«A nossa mensagem ainda não chegou aos idosos, isto é uma temática nova. É necessário um trabalho de consciencialização. Os maus-tratos existem, são uma realidade», alertou o responsável pelo Serviço de Consulta Psicológica e Desenvolvimento Humano da Universidade do Minho, José Ferreira-Alves.

Como tal, o professor apelou aos idosos: «Se se sente ofendido, maltratado ou insultado, venha contar-nos a sua história. Pode ligar para o 253 604 245, porque é mais fácil por telefone do que dar a cara. Às vezes os idosos só precisam de alguém que os ouça.»

Idosos: médicos criam consultas para vítimas de maus tratos

Partindo do pressuposto que «há uma relação de confiança entre o agressor e a vítima», José Ferreira-Alves revelou que o principal objectivo das consultas é «arranjar soluções sociais» e não «arranjar um culpado», dando «apoio psicológico» e «capacitando as vítimas para reverterem a situação».

«Há uma má informação à volta do tema, que se associa apenas a abusos físicos e esquecem-se do abuso financeiro, dos maus-tratos emocionais e da negligência», explicou, acrescentando que, «se não houver solução para um caso que ultrapasse o razoável, desde que com o acordo da pessoa, podemos eventualmente denunciar às autoridades».

Baseado «em vários estudos», o professor de Braga denunciou os factores de risco de maus-tratos nos idosos: «O isolamento social e a pouca vigilância, o facto do idoso depender de outra pessoa e estar mal de saúde, a pessoa que cuida do idoso precisar de dinheiro ou habitação, ou ter dependência de drogas e álcool, ou ter alguma psicopatologia, ou mesmo ter sido abusado no passado.»

O que fazer?

Para José Ferreira-Alves, a sociedade necessita de acordar para o problema e há um alvo preferencial. «A nossa estratégia passa por informar os profissionais de saúde, porque toda a gente vai ao médico. Precisamos de actuar nas consultas de cuidados primários nos centros de saúde, para que os médicos referenciem as nossas consultas», anunciou.

Ainda em relação às estatísticas da APAV, que garantem que, das vítimas com 65 anos ou mais, 525 eram mulheres e 120 homens, o responsável admitiu que «a mulher tem menos maneiras de lidar com os maus-tratos, mas o número homens tem vindo a aumentar, ainda que haja muita dificuldade em admitirem e queixarem-se disso».

Sem comentários: