quinta-feira, 23 de abril de 2009

Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada

Provedor diz que objectivo da Misericórdia de Ponta Delgada "não pode ser o lucro"
Regional | 2009-04-21 22:34

Nos últimos anos a Misericórdia de Ponta Delgada tem sido notícia pelas piores razões: primeiro por causa de denúncias de mau funcionamento e negligência em valências como o lar e a unidade de cuidados continuados, depois pela polémica destituição do Provedor e convocação de eleições. Na semana em que toma posse, sem cerimónia oficial, a nova Mesa Administrativa, confrontámos José Francisco Silva, o novo provedor, com o passado recente e questionámos o jurista sobre os projectos que pretende implementar.
O que o levou, junto com um grupo de outros irmãos, a pedir a demissão do antigo provedor?

Não é muito normal a sociedade assistir a tanta polémica em volta de uma instituição como a Misericórdia de Ponta Delgada. Não era possível ter evitado toda esta polémica?

Penso que não era possível. E essencialmente atendendo à pessoa do próprio Provedor que respeito, mas que não soube sentir que era altura de outros dinamizarem a instituição, nem que fosse permanecendo como Provedor. O ex-provedor fez aqui um bom trabalho, sobretudo a nível financeiro. A instituição está numa boa situação financeira, mas a razão da existência de uma instituição destas não é ter uma boa situação financeira. É fazer acção social! É ajudar a resolver os problemas das pessoas na sua área de actuação. E desse ponto de vista, ter só uma boa situação financeira é um mau trabalho!

O que começou por ser uma contestação a uma liderança acabou por extravasar a Santa Casa. A polémica foi alimentada pela intromissão de outros interesses, como os partidários?

Apercebi-me a certa altura disso. Agora, a minha concepção é que todos nós temos direito às nossas opções políticas, mas uma instituição desta natureza tem de ser apolítica. Nós nunca nos movemos com intenções deste tipo e assim será no futuro.

Ao assumir a liderança da Misericórdia, que problemas encontrou nas valências da instituição?

Havia problemas de funcionamento corrente, ao nível da qualidade dos cuidados que eram prestados, e dos serviços fornecidos, como a alimentação, bem como no acompanhamento psicológico dos utentes, da qualidade das instalações, dos equipamentos - alguns continuam a existir, outros já foram resolvidos.

O que já conseguiu modificar?

Foram já introduzidas muitas melhorias e temos tido o retorno disso, ou seja, já várias pessoas nos vieram dizer que os serviços estão diferentes e que melhoraram, quer ao nível do ambiente que se vive nos serviços, quer ao nível dos equipamentos. Questões como a avaria dos elevadores ou dos dispositivos de segurança no Lar da Levada estão resolvidas, a limpeza está a funcionar melhor e foram admitidos vários funcionários (para o Lar da Levada já entraram seis novos funcionários). Portanto, estas questões a que chamaria de gestão corrente estão todas resolvidas (pelo menos 90 por cento dos problemas estão resolvidos). Todas as recomendações que foram feitas, nomeadamente por autoridades sanitárias, foram acatadas e estão em fase de conclusão. Agora houve problemas que deram origem a queixas e a processos judiciais, e alguns estão em curso. A situação chegou onde chegou por causa do modelo de gestão, em que havia dificuldade de mudar.

Qual será o modelo de gestão da nova Mesa Administrativa?

O grande objectivo da Misericórdia não é ter lucros e ter uma situação financeira muito boa, tendo como contrapartida disso uma deficiente prestação de cuidados e serviços e de apoio social. O nosso objectivo é ter uma gestão flexível e eficaz que permita disponibilizar recursos para prestar um bom serviço social, quer no que já existe, quer em novas valências e áreas de actuação.

Qual é a situação patrimonial e financeira da Misericórdia de Ponta Delgada?

O património da Santa Casa é grande - tem este edifício, muitas casas no concelho e prédios rústicos. Além disso, a Misericórdia é detentora de 30 por cento do capital social do BES Açores. E portanto, a situação patrimonial e financeira da Santa Casa é boa. Mas é preciso ter em conta que em termos da actividade operacional, a Santa Casa é deficitária em algumas centenas de milhar de euros. Isto porque a actividade das valências é quase toda financiada pelo Governo Regional, numa percentagem que andará em média à volta de 65 por cento, e o resto tem de ser coberto pelas verbas da Santa Casa, porque as comparticipações dos utentes não são suficientes). Agora entrando com os restantes meios da Santa Casa - com os proveitos financeiros e extraordinários, a situação deficitária passa a situação de superavit. De facto temos uma situação que nos permite encarar com optimismo novas actividades e novos projectos. Mas terá sempre de haver alguma cautela.

Que projectos pretende levar a cabo neste mandato de três anos?

Fizemos uma proposta que foi sufragada nas eleições de 31 de Março que contém um elenco de todos os projectos. Pretendemos recuperar a farmácia que a Santa Casa já teve. Temos a ideia de criar um centro de acolhimento temporário de pessoas sem-abrigo. Temos no muito curto prazo a ambição de aumentar a capacidade de valências que já existem, sobretudo dos cuidados continuados, porque a lista de espera é grande (capacidade actual para 70 pessoas e lista de espera de algumas dezenas). Queremos recuperar algum do nosso património imobiliário - a Misericórdia tem capelas que precisam de obras de reabilitação e conservação. E temos a ideia de organizar uma Casa-Museu da Santa Casa que, por ser uma instituição com cinco séculos, tem um património histórico e cultural rico. Queremos recuperar o nosso arquivo histórico e promover a publicação da história da Santa Casa. A ideia é atrair as pessoas a este edifício-sede e criar um conjunto de utilidades e serviços, no âmbito social, da saúde e do lazer. Construir uma escola profissional de raiz, uma nova creche, uma clínica, e fazer uma incursão pelo turismo social são outras ideias.




Foi a motivação de implementar novos projectos e de dar uma nova dinâmica à Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada.

Paula Gouveia

AO

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