sábado, 25 de abril de 2009

Santa Casa da Misericórdia de Valpaços

Valpaços


“Trabalhos forçados” na Misericórdia

Um dos utentes fotografado enquanto trabalhava numa obra da Santa Casa da Misericórdia
Alguns utentes da Santa Casa da Misericórdia de Valpaços trabalham, de forma árdua, para a própria instituição. O provedor desvaloriza: “Não escravizamos ninguém. Eles trabalham porque querem”. Mas a Segurança Social defende que “os utentes não devem trabalhar para a instituição”. E mais. Diz que “quem conhecer este tipo de situações deve denunciá-las”.

Além de utentes, quatro homens, com idades compreendidas entre os 40 e os 52 anos de idade, executam, com regularidade diária e há já vários anos, trabalho para a Santa Casa da Misericórdia de Valpaços.

Dois deles, operam, sobretudo, na quinta que a Misericórdia possui em Valverde, onde fazem todo o tipo de trabalho, desde cavar vinhas, ao trabalho inerente à produção, em estufa, de todo o tipo de hortícolas. No Verão, começarão a trabalhar às 06h00.

Além disso, por vezes, ajudarão, inclusivamente, em obras de construção civil que decorrem na instituição ou nas valências. Um terceiro utente está no bar durante todo o dia. E um quarto estará, há cerca de oito meses, altura em que o barbeiro que prestava serviço na instituição se reformou, a assegurar, sozinho, a feitura das barbas dos restantes utentes da Misericórdia e das valências. Aliás, já o faria nas férias do barbeiro.

No entanto, apesar da dureza de algumas das tarefas, o provedor da Santa Casa da Misericórdia, Eugénio Morais, fala em “entretenimento”. “Não obrigamos ninguém, eles é que querem fazer. Se não trabalham, não se sentem realizados. É isso. Nós não escravizamos ninguém”, garante o provedor, referindo-se aos dois homens que trabalham na quinta e que diz terem “à volta dos 30 anos”. O Semanário TRANSMONTANO sabe que um tem 40 e outro 52 anos.

“Por exemplo, hoje, podamos as vinhas, eles andaram a apanhar as vides. Acho que isso não é um trabalho árduo!”, frisa Eugénio Morais, negando que o serviço do bar seja assegurado por um utente, bem como o da barbearia. “Mas se fizesse uma ou outra barba, acha que tinha algum mal?”, questiona o provedor.

“Os utentes não devem trabalhar para as instituições e não o fazem. As mulheres podem fazer bordados, os homens outro tipo de coisas para se entreterem ou se sentirem mais ágeis, mas de forma voluntária e sempre como actividade considerada ocupacional”, defende, em “abstracto”, o coordenador do Centro Distrital de Segurança Social de Vila Real, Rui Santos, frisando que não conhece a situação em concreto. Em tese, Rui Santos advoga ainda que “o trabalho forçado” por parte de utentes “não é razoável” e que quando são conhecidas situações desta natureza devem ser comunicadas para que os serviços de fiscalização averigúem.

Por: Margarida Luzio

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