quinta-feira, 2 de abril de 2009

Santa Casa da Misericórdia de S. João da Madeira

SECÇÃO: Local




Finanças da Santa Casa agravam-se, mas administração recusa alarmismos
Cresce o saldo negativo no balanço anual da Misericórdia. Não é grave, diz o provedor, convencido de que a instituição inverterá o cenário

As contas da Santa Casa da Misericórdia de S. João da Madeira foram aprovadas por unanimidade na passada segunda-feira, 30 de Março. O balanço financeiro de 2008 demonstra um agravamento dos resultados líquidos extraordinários em mais de 75 mil euros, passando de 194.916 euros negativos em 2007 para 270.411 euros negativos. Uma evolução que quebra a tendência de desagravamento verificada desde 2004 e que o provedor Alberto Pacheco espera ver comentada nos jornais pelos “críticos” da instituição, numa leitura que descreve como “possível” mas não “ajustada à realidade da Santa Casa”.

Alberto Pacheco justifica os números negativos com o “incremento da actividade social” superior a 16 por cento, no seguimento dos investimentos realizados pela Misericórdia nos últimos cinco anos. Para o provedor, 2008 marca o fim de um ciclo correspondente a um esforço financeiro de três milhões de euros, que é visível nas novas valências inauguradas no ano passado: Creche de Fundo de Vila e Unidade de Cuidados Continuados.

O provedor recusa uma análise “alarmista” das contas, embora reconheça que a situação financeira da Santa Casa continua no centro das preocupações da mesa administrativa. “Sempre soubemos que investimentos tão volumosos seriam de execução difícil, agravada pelo contexto operacional largamente desequilibrado como o que herdamos”, disse aos irmãos na passada segunda-feira. Mas não avançar seria “desaproveitar instrumentos públicos de financiamento” e culminaria na perda da posição central que a instituição tem ocupado na acção social do concelho e do distrito, argumentou Alberto Pacheco.

“O agravamento das dificuldades financeiras não é um fatalismo”, afirmou o provedor, seguro da reversão dos rácios financeiros. Alberto Pacheco acredita que o equilíbrio “é possível”, nomeadamente através da contenção em investimentos futuros, de um rigoroso controlo da gestão operacional e de um esperado impacto positivo dos investimentos recentes. Tudo isto, sem prejudicar a actividade assistencial, garantiu.

No entanto, também o conselho fiscal da instituição manifestou no seu relatório “grande preocupação com a fragilidade da situação financeira” da Misericórdia sanjoanense, recomendando à mesa administrativa que identifique e tome decisões de gestão que permitam melhorar “significativamente” os resultados operacionais e favoreça a libertação de meios financeiros que “contribuam decisivamente para o equilíbrio financeiro da instituição”.


Factores de agravamento


Para o agravamento dos resultados líquidos da Misericórdia contribuíram vários factores, como o início das amortizações da creche de Fundo de Vila e da UCC, provocando o aumento do volume total destas em 34,3 por cento (77.410 euros).

O fim dos investimentos culmina também no aumento do passivo. As dívidas à banca cresceram 495 mil euros, em 2008, estando actualmente nos 5,3 milhões de euros. Com o Estado, a instituição assegura ter a situação regularizada.

O incremento da actividade da instituição, resultante do funcionamento de novas valências, tem também reflexos no volume de custos e proveitos, que crescem acima dos 10 por cento.

A agravar a situação, a Misericórdia registou no ano passado baixos proveitos extraordinários. Estava prevista a venda de uns lotes de terreno, mas o atraso no licenciamento adiou a transacção para 2009, estando próxima a convocação da assembleia geral para autorizar o negócio. Também a captação de donativos foi, em 2008, menor.

No plano de actividades de 2008 foram apontados alguns eixos de intervenção para manter a tendência de diminuição dos resultados líquidos negativos, como a transferência de recursos humanos excedentários, a adopção de modelo de funcionamento “pontas e férias” nos ATL e a centralização da cozinha e lavandaria, entre outros, mas estas medidas não produziram efeito sobre a totalidade do ano, influenciando o balanço final.

Todas as valências da Santa Casa, à excepção do Lar de Idosos, Centro Comunitário “Porta Aberta”, e Trilho, apresentam balanços financeiros negativos. Apenas o Centro Comunitário “Porta Aberta”, o Centro de Acolhimento Temporário de Menores e o Centro Infantil melhoraram os seus resultados em relação a 2007.

Por outro lado, o cash-flow (fluxo de caixa) operacional melhora significativamente sobre 2007, assim como o cash-flow, em geral, que regista um valor positivo pelo segundo ano consecutivo.

O cenário traçado chamou a atenção do irmão e director do Centro de Ensino Integral Joaquim Valente, assumidamente preocupado com a “acumulação de resultados negativos”. “Vemos que o capital próprio da Santa Casa começa a estar muito absorvido pelo prejuízo”, alertou, recomendando a adopção de “medidas mais radicais”. Em resposta, o director de serviços da Misericórdia esclareceu que o agravamento das amortizações desempenhou um papel de peso no aumento dos custos e as comparticipações do Estado também foram menores. “O que quer dizer que a Misericórdia está menos subsídio-dependente e mais prestadora de serviços”, concluiu Vítor Gonçalves.


Por: Anabela S. Carvalho


Labor

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