sábado, 11 de outubro de 2008

Misericórdia de Guimarães

130.° – Confraria e Irmandade de Nossa Senhora da Misericórdia
É neste contexto social que surgem as “Misericórdias”, vocábulo que etimologicamente significa “ter compaixão dos miseráveis, dos míseros”. Nos primeiros “compromissos” da Misericórdia de Lisboa fundada pela Rainha D.ª Leonor como instituição de assistência aos necessitados chama-se-lhe “Confraria e Irmandade”, sem dúvida, para identificar a dupla função da misericórdia, de socorro mútuo e auxílio aos pobres. As Misericórdias tiveram origem nas inúmeras confrarias de caridade que em Portugal floresceram desde o início da nacionalidade, umas do tipo de Ordens Terceiras, Franciscanas, Dominicanas e Trinitárias, outras formadas por membros de corporações medievais ou, pelo menos, administrando albergarias, hospitais, gafarias, mercearias. Vocacionadas, especialmente, para a fundação de hospitais, as misericórdias seguiram na esteira das confrarias de Santa Maria de Rocamador, as quais prestavam relevantes serviços nos hospitais medievais. D. Afonso V mandou agrupar hospitais diminutos para formar um hospital de maiores proporcões, facilitando administração mais eficiente. D.ª Leonor, esposa de D. João II, vai mandar erigir a uma légua a norte da vila de Óbidos um hospital termal com cem camas destinado aos pobres, então o maior do país e, como termal, o mais antigo de todo o mundo, com a colaboração do famoso Cardeal Alpedrinha, D. Jorge da Costa, irmão do Arcebispo de Braga, D. Jorge da Costa (1486-1501) e ele também Arcebispo de Braga (1501-1505), ao suceder ao seu homónimo irmão. O hospital tinha como função específica, a cura do reumatismo e outras doenças e como finalidade a prática máxima das 14 Obras de Misericórdia, tanto corporais como espirituais. Começou a funcionar em 1488. Dez anos depois, 1498, precisamente no ano em que foi descoberto o caminho marítimo para a Índia, por Vasco da Gama, a Rainha D.ª Leonor inaugurou a Confraria e Irmandade de Nossa Senhora da Misericórdia.
A Confraria de Nossa Senhora da Misericórdia de Guimarães foi fundada e teve a sua sede primitiva na Capela de São Brás, nos Claustros da Colegiada.
Devendo ter começado a funcionar antes de 1511, dado que existem pergaminhos de emprazamentos escritos em 1511 e 1512, na Crasta da Colegiada, na Capela da Misericórdia, pelo que podemos concluir que a confraria e Irmandade se organizou e floresceu nessas datas. Penso até que o ano de 1511 é paradigmático, porque é justamente a partir desta data que aparece numa paróquia de Guimarães, dedicada a Santa Maria pela primeira vez, o orago de “Nossa Senhora da Misericórdia”, como padroeira, em Santa Maria de Airão. E porquê? Porque sendo a Confraria da Misericórdia instalada na Capela de São Brás, no Claustro da Colegiada - como atrás referimos - com provedoria ligada ao Dom Prior, parte daqui para paroquiar Santa Maria de Airão com título canónico vinculativo de Abade, nesse mesmo ano de 1511, o coreiro da mesma Colegiada, Fernão Anes de Maçoulas, sobrinho de um anterior abade de que há notícia em 1488, João Anes de Maçoulas e, provavelmente, terá transportado esta devoção da Senhora da Misericórdia para proteger a sua acção pastoral em terras de “Santa Maria D’Arião de Lanhas”, ao tempo pertencendo o julgado de Vermoim.
O “Compromisso” da Misericórdia foi adoptado em Guimarães como guião regulador dos eu exercício, em 17 de Dezembro de 1525. Desde essa data, quase há 470 anos, que estão lançadas as bases da Misericórdia de Guimarães cuja actuação como obra eminentemente assistencial tem perdurado, fazendo frente a inúmeras situações de miséria, doença e injustiça, alcandorando a cúpula dos seus objectivos essenciais, as Obras de Misericórdia. A vertente hospitalar e refúgio aos necessitados atingidos por toda a sorte de infortúnios tem distinguido a acção benéfica da Santa Casa da Misericórdia e sua Irmandade através dos tempos. No seu funcionamento, primeiro junto à Casa da Misericórdia, após expropriação autorizada por alvará régio de 1588 e de 1609 de algumas casas da Rua Sapateira, ali serviam voluntariamente, hospitaleiros, lavadeiras, aguardeiras, médicos, cirurgiões, sangradores, para cuidar dos pobres e enfermos, acompanhar os irmãos nos peditórios e fazer as “unturas” às pessoas que a Santa Casa mandasse curar de “boubas”. A Capela de São Lázaro e a Gafaria que lhe estava adstrita, como também a do Campo das Lameiras, dedicada a Santo André, situada no “Campo da Miserela”, em Creixomil, onde os míseros e os lázaros infectados pela lepra se acolhiam. Estas gafarias são concedidads à Misericórdia por provisão régia de 1616, para que esta as utilizasse e administrasse segundo os seus fins. O Hospital adstrito, também, à Igreja de São Dâmaso e o asilo para os pobres, com atenção aos da Santa Comba de Regilde, que assim mandava o Abade daquela terra, o P. Lucas Rebelo, seu instituidor. A Casa Pia dos Entrevados, de São Paio, o Asilo de Donim, obras destinadas a dar guarida aos pobres aleijados e paralíticos que pediam esmola pela vila. O movimento hospitar tornara-se muito intenso e por concessão da Rainha D.ª Maria II pôde a Santa Casa adquirir o edifício do Convento de Santo António dos Capuchos, após a extinção das ordens religiosas com o Liberalismo, em 1834, passando à Fazenda Nacional e sendo comprado em Agosto de 1842, em hasta pública. Ali funcionou o Hospital da Misericórdia até à criação do Novo Hospital Distrital da Senhora da Oliveira. Em 18 de Fevereriro de 1923 é inaugurado solenemente o Hospital de Vizela, denominado Hospital António Francisco Guimarães, tendo os médicos de Vizela se prontificado a fazer gratuitamente o serviço clínico nesse hospital. Ali como em todas as outras casas da sua administração se revela a vocação hospitalar e assistencial da Santa Casa da Misericórdia que vai caminhando na sua acção benéfica para os mais idosos, como Lar dos Inválidos de Donim e São Paio e recentemente com o Lar Rainha D.ª Leonor, obra dispendiosa, mas de reconhecido valor de acção social, como também o Lar para acamados instalado no seu antigo Hospital.

1/02/2005
Pe. Armando



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