quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Misericórdia de Vouzela

Crise leva Misericórdia a baixar rendas das casas
Instituição justifica decisão com a vontade de ajudar famílias em dificuldades
00h30m
TERESA CARDOSO
A Misericórdia de Vouzela, o maior empreendor imobiliário do concelho, decidiu manter ou baixar as rendas pagas pelos seus inquilinos no próximo ano. As reduções variam entre os 30 e os 60 euros/mês por família.

A decisão da instituição privada de solidariedade social (IPSS), extensiva a todos os arrendatários, representa uma perda de receitas superior a cinco mil euros no próximo ano.

"Quando fiz a proposta à mesa, aprovada por unanimidade, já sabia que este gesto solidário teria custos. Mas num momento de profunda crise económica e financeira como o que atravessamos, era preciso dar um sinal às famílias. Foi isso que nos motivou", explicou, ao Jornal de Notícias, Eugénio Lobo, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Vouzela (SCMV).

O plano aprovado no dia 10 deste mês será posto em prática tendo em conta os valores das rendas em vigor que, em alguns casos, rondam os 400 euros.

Segundo o provedor da SCMV, foram estabelecidas duas modalidades, ambas com efeito a partir de 1 de Janeiro do próximo ano: reduções entre 30 e 60 euros (que em alguns casos podem até ser mais elevadas) para os arrendamentos mais caros; e a não aplicação do coeficiente de actualização nas rendas mais baixas.

"As situações estão a ser avaliadas caso a caso. Na certeza, antecipada, de que todos os inquilinos, quer os que passarão a pagar menos, quer aqueles que verão congelado o aumento previsto na lei, sairão beneficiados", garante Eugénio Lobo

Fora deste processo estão os arrendatários de prédios que a instituição tem no país, nomeadamente em Lisboa, que não terão quaisquer alterações.

"Estamos a falar de casos em que as rendas mensais oscilam entre os sete, oito e 11 euros. É claro que nestas circunstâncias aplica-se a actualização legal", explica Eugénio Lobo.

"Estamos a cumprir o nosso dever. Esperamos que este exemplo possa ser seguido por outras entidades", desafia o provedor.

"Já fui informada de que a renda de 305 euros mensais que estou a pagar vai ser reduzida em 75 euros. Será uma grande ajuda nesta altura do campeonato", reconheceu uma moradora que habita uma fracção da rua doutor Gil Cabral.

Um casal e dois filhos, de 12 e 24 anos, residente no bloco junto ao complexo da Misericórdia, mostrou ao JN a carta, datada de 14 de Outubro, em que ficou a saber que em 2009 não teria aumento de renda, "tudo o que é para pagar menos é bom. Nem que fosse apenas um euro. No nosso caso, vamos ficar a pagar o mesmo".

A residir em casa do irmão, com a avó, Susana Filipa rejubila. "A Misericórdia está a cumprir a sua missão".

O presidente da Câmara de Vouzela, Telmo Antunes, espera que o "exemplo" da Misericórdia seja seguido por outras entidades a nível nacional.

"Estão a abdicar de receitas, necessárias às instituições sociais que têm em funcionamento, para ajudar quem precisa. E, infelizmente, há cada vez mais pobres também nesta zona do país", reconhece o autarca.

Telmo Antunes desabafa: "Temos distribuído alimentos por pessoas que não têm comida para pôr na mesa. Há muita fome envergonhada. Esta é uma realidade à qual nenhum de nós pode ser indiferente".

Jornal de Notícias
23-10-2008

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