segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Santa Casa da Misericórdia de Borba

Igreja da Misericórdia, Hospital do Espírito Santo
Igreja e Hospital da Santa Casa da Misericórdia

A Misericórdia de Borba teve como antecedente a irmandade do Santo Espírito de Nossa Senhora, fundada em 1379 no alpendre da igreja de Santa Maria do Castelo e da qual dependia uma albergaria (SIMÕES, 2006, p. 27). Muito embora já anteriormente fosse referida como Misericórdia, a conversão da irmandade do Santo Espírito de Nossa Senhora ocorreu apenas a 18 de Junho de 1524. Muito se tem discutido, também, sobre qual teria sido a sua sede, admitindo-se como mais provável a igreja de Santa Maria do Castelo (IDEM, p. 64).
Permanece igualmente desconhecido o ano em que tiveram início os trabalhos para a construção da igreja, embora vários factores determinem que estes devem ser balizados entre 1511 e 1526. A primeira data é referente à tomada dos bens da irmandade por parte do delegado do Duque de Bragança, em cujo tombo não é referida qualquer capela. A outra corresponde ao mais antigo documento conhecido em que é mencionada a igreja da Misericórdia.
Nas centúrias seguintes, o templo foi objecto de múltiplas intervenções, todas elas identificadas documentalmente na mais recente monografia dedicada à igreja e à história da própria confraria, cujas conclusões aqui seguimos (cf. SIMÕES, 2006).
Trata-se de uma igreja de planta longitudinal, com nave única coberta por duas abóbadas polinervadas, sem transepto e sem capelas laterais e com capela-mor mais baixa e também com abóbada polinervada, inscrevendo-se no ciclo do tardo-gótico alentejano (IDEM, p. 65). A primeira obra documentada é a da construção do coro, em 1579, sob a direcção do mestre Diogo Rodrigues. Seguiu-se a construção do Consistório, entre 1604 e 1605, de dois pisos a Sul da igreja, e onde se situa a sacristia, a portaria, escada para o coro, o antigo arquivo e a sala das Sessões. Nos mesmos anos executou-se ainda a janela da tribuna e o púlpito. De 1638-39 é a balaustrada de mármore do coro. Com as Guerras da Restauração as campanhas artísticas da igreja da Misericórdia sofreram uma interrupção, para regressar em força no período de acalmia que se lhe seguiu.
Assim, logo na década de 1680, e certamente inspirada na igreja de São Bartolomeu, a Mesa decidiu revestir o templo com azulejos polícromos, escolhendo o mesmo padrão conhecido por maçaroca. Poucos anos antes, entre 1676 e 1677 os tectos haviam recebido pintura a fresco, hoje desaparecida (IDEM, p. 155-56).
Já no século XVIII, uma nova campanha artística renovou os retábulos de talha com o retábulo-mor contratado com o entalhador Manuel de Mures, em 1731. Todavia, a sua linguagem mais próxima do proto-barroco motivou alguns acrescentos e alterações, de características barrocas e mais actualizadas em relação ao que se fazia na capital (IDEM, p. 163-64).
Na segunda metade da centúria executou-se nova tribuna, dourada por António de Sequeira; o coreto do órgão, em 1762 e o próprio órgão, em 1771 pelo mestre organeiro Pascoale Oldivino. No mesmo ano o mestre Francisco Miguel realizou o janelão de mármore do coro e que se situa sobre o portal principal, na fachada da igreja.
Um dos aspectos mais significativos que os estudos recentes apontam é o papel da arte e das campanhas artísticas ao serviço da propaganda e da legitimação das Mesas, principalmente na segunda metade do século XVII, quando houve mais corrupção e problemas ao nível dos partidos, com alternância entre os mais conservadores e os mais liberais, com reflexos imediatos no gosto conservador ou actualizado da encomenda artística (IDEM).
(Rosário Carvalho

IPPAR

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