domingo, 21 de dezembro de 2008

Santa Casa da Misericórdia de Belmonte

Óleo das batatas fritas faz mover carros em Belmonte

http://www.youtube.com/watch?v=WVBG7vlqFjU

RITA CARVALHO
O óleo usado na confecção dos bolos expostos na vitrina da pastelaria é vertido da fritadeira para o funil amarelo, e daí para o bidon azul. As duas funcionárias do estabelecimento que pertence à Santa Casa da Misericórdia de Belmonte fazem esta operação delicada enquanto, lá fora, o senhor Sérgio abre as portas traseiras da carrinha, já cheia de bidons com óleo alimentar. "Eu consumo biodiesel", lê-se na carroçaria. A frase ilustra esta operação. O mesmo óleo usado na pastelaria irá servir de combustível a esta viatura, mas também a máquinas industriais e a caldeiras dos lares e creches da Santa Casa.

"No início, as pessoas desconfiavam e perguntavam se não levávamos dinheiro por recolher o óleo. Agora já se habituaram", conta o senhor Sérgio, que todos os dias percorre 200 a 300 quilómetros para deixar o bidon vazio em troca de outro cheio. Restaurantes, cantinas ou hotéis são visitados de 15 em 15 dias pela carrinha da Ecoldiesel, a empresa da Misericórdia que produz biodiesel através do óleo alimentar recolhido nestes estabelecimentos.

Após a troca de recipientes, resta ao senhor Sérgio preencher a guia de acompanhamento de resíduos exigida pelo Ministério do Ambiente e deixar no restaurante o comprovativo de que o óleo foi entregue a uma empresa licenciada para lhe dar um destino adequado, tarefa a que estão obrigados todos os produtores deste resíduo perigoso. Depois há que seguir viagem para outra freguesia, fazendo cumprir uma rotina que se foi instalando e alargando ao longo dos últimos dois anos.

O sistema de produção de biodiesel é caseiro, construído de raiz, e faz-se numa espécie de garagem da Santa Casa de Belmonte, enquanto a instalação industrial, já em construção, não fica completa. No início, não foi fácil sensibilizar as pessoas para colaborarem nesta tarefa, apesar das cartas enviadas a expor o assunto e da mobilização porta a porta, confessa João Gaspar, mentor do projecto e provedor da Misericórdia. "Continua a ser mais cómodo deitar o óleo na pia do que guardá-lo num recipiente para depois ser recolhido", afirma, alertando para os danos ambientais causados pela presença do óleo nos colectores municipais: contaminação das águas, solos e o entupimento dos colectores.

Actualmente, a Ecoldiesel recolhe no distrito de Castelo Branco mas também no nordeste transmontano, em Lisboa, Leiria, Algarve e Évora, num total de mil estabelecimentos, entre escolas, instituições de solidariedade, restaurantes e refeitórios. A quantidade chega para produzir dois a três mil litros de biodiesel por dia. Mas a produção irá crescer rapidamente quando estiver no terreno o projecto que abrange os 13 concelhos vizinhos e a região de Salamanca (ver texto ao lado).

Quando chegam ao centro de produção, os bidons de óleo são descarregados e sujeitos à verificação de acidez, pois nem todos têm a mesma pureza e utilização e pretende-se fazer um biodiesel homogéneo. São aquecidos nuns reactores iniciais para lhes ser retirada a humidade, seguindo depois para outro onde são submetidos a 55 graus. Depois de injectada soda cáustica e metanol, ao fim de uma hora, retira-se a glicerina e lava-se o biodiesel.

O biodiesel produzido é consumido internamente nas caldeiras de aquecimento, nas viaturas de recolha de óleo ou é vendido a empresas industriais para a utilização em máquinas. Além de aproveitar um resíduo perigoso, o biodiesel emite menos poluição. Alguns utilizam-no em estado puro, outros juntam-lhe 20% de diesel. No Mercedes de João Gaspar, garante, só entra 100% puro.|

DN
06.04.08

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