segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Santa Casa da Misericórdia de Paredes

Ciganos adultos conhecem primeiras letras na escola
Misericórdia dá curso de alfabetização a comunidade com mais jeito para números
00h30m
JOSÉ VINHA
Adultos da comunidade cigana radicada em Paredes andam na escola pela primeira vez para aprender a ler e a escrever Português. O curso é coordenado pela Misericórdia, no âmbito do Rendimento Social de Inserção.

"Um cigano quando nasce, já nasce com as contas na cabeça. Pode não saber ler nem escrever, mas nunca se engana a fazer contas", afirma Maria Goreti, uma das 11 pessoas inscritas no curso de alfabetização. A afirmação revela a pouca importância que o domínio básico da escrita e da leitura tem no quotidiano dos ciganos, regra geral, com maior apetência para os números, até porque a maioria vive do pequeno comércio.

A comunidade é apoiada pela Segurança Social e no âmbito do Rendimento Social de Inserção foi desenvolvido um curso de alfabetização coordenado pela Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Paredes.

De algum modo obrigados a irem à escola, os ciganos de Paredes não ofereceram resistência ao projecto de integração social, antes pelo contrário, entendem que aprender a ler e a escrever lhes permite adquirir uma competência valorativa socialmente.

Maria Goreti, 31 anos, é das poucas pessoas do grupo de ciganos que frequentou a escola, aos 13 anos, mas a vida nómada atirou-a para outras andanças, a ela e aos restantes membros da comunidade. Hoje, todos já fazem parte da sociedade local apesar de continuarem a viver, em barracas, a dois passos do centro da cidade de Paredes.

"É bom aprender as palavras" acredita Luís Augusto, o aluno mais velho. O homem mostra o caderno de duas linhas. Em pouco mais de um mês, aprendeu a juntar palavras com sentido e até aperfeiçoou a caligrafia, assinando o nome com uma letra visível e certinha.

Maria Cândida nunca na vida tentou sequer desenhar uma letra. Revela alguma dificuldade, mas acredita que dentro de três meses, quando acabar este curso, saberá, pelo menos, assinar o próprio nome. "Isso já é muito importante para nós", confessa.

"Esta gente anda feliz, sobretudo as mulheres. Trata-se de uma comunidade especial, com regras próprias, em que o papel das mulheres face ao dos homens é sobrevalorizado. Por isso, elas ganharam auto-estima e os homens a possibilidade de terem um emprego porque o objectivo, numa segunda fase deste projecto, é estabelecer uma parceria com o IEFP para formar e empregar alguns dos membros desta comunidade", explica o psicólogo Pedro Nazário, gestor do projecto.

Mas arranjar instalações não foi fácil. "Ninguém os quis", assegura o padre Feliciano Garcês, presidente da Obra da Caridade ao Doente e Paralítico."O facto de cedermos o espaço para a sala de aulas, sentimos que contribuímos para a integração social desta comunidade", afirma o sacerdote.

Jornal de Notícias
01-12-2008

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